Ministério Grão De Trigo

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AUTORIDADE ESPIRITUAL GENUÍNA

DOIS TIPOS DE AUTORIDADE

Capítulo 1

Autoridade Espiritual Genuina, livro por David W. Dyer

Publicacao Grao de Trigo

Escrito por David W. Dyer

ÍNDICE

Capítulo 1: DOIS TIPOS DE AUTORIDADE (Capítulo Atual)

Capítulo 2: A REBELIÃO DE CORÁ

Capítulo 3: A SARÇA ARDENTE

Capítulo 4: A FORMA DE UM SERVO

Capítulo 5: O CABEÇA DE CADA HOMEM

Capítulo 6: O CABEÇA DO CORPO



“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo:

toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28:18).

“Eles estabeleceram reis, mas não da minha parte; constituíram príncipes, mas eu não o soube” (Os 8:4).

“Os profetas profetizam mentiras, os sacerdotes governam por sua própria autoridade e o meu povo gosta dessas coisas. Mas o que vocês farão quando tudo isso chegar ao fim?” (Jr 5:31 NVI).



PREFÁCIO

No deserto, os filhos de Israel foram confrontados com um problema. Surgiu, entre eles, uma questão sobre quem deveria estar na liderança. Além de Moisés e Arão, haviam outros homens na congregação que eram bem conhecidos e considerados líderes.

Entre eles estavam Corá, Datã e Abirão, que reuniram outros 250 para desafiar a liderança dos ungidos de Deus. Eles estavam lutando por posições de autoridade e por reconhecimento entre o povo de Deus. Falaremos mais tarde, no capítulo 2, acerca do julgamento de Deus sobre estes rebeldes, mas, aqui, nossa consideração será diferente.

Imediatamente após esse confronto ter sido resolvido, nosso Senhor sentiu que era necessário ensinar a Seu povo uma lição sobrenatural. Além disso, Ele sabia que, no futuro, Seus filhos também precisariam ser capazes de reconhecer a autoridade espiritual. Eles iriam necessitar de uma base pela qual poderiam julgar que tipo de autoridade era simplesmente humana e qual era verdadeiramente divina. Já que a autoridade terrena pode ser comovente, com todo o seu charme e possibilidades, talvez nós também possamos nos beneficiar da ilustração sobrenatural de Deus.

O que Deus fez foi isto: Ele instruiu Moisés a tomar um cajado de cada um dos líderes da congregação. Esta vara era um símbolo de liderança e autoridade. Essa coleção de varas, entre as quais estava a de Arão, foi colocada no tabernáculo durante a noite. Pela manhã, algo sobrenatural ocorreu. A vara de Arão tinha mudado de três maneiras. Ela havia brotado, florescido e dado frutos – tudo ao mesmo tempo! Isso é realmente incrível! Você já viu um galho de uma árvore ter botões, flores e frutos simultaneamente?

As outras varas permaneceram como eram – velhas, duras e secas. No entanto, a vara daquele que estava manifestando autoridade divina tornou-se completamente diferente.

Essa ilustração fala conosco até hoje. A autoridade humana e a autoridade verdadeiramente divina têm “sabores” espirituais distintos. Cada uma possui características individuais que podemos identificar.

A autoridade terrena é dura e seca. Ela nos faz exigências, mas não nos supre. É exercida pela força humana e imposta com medidas terrenas.

Assim como uma vara velha e seca poderia ser usada para bater em um animal desobediente ou golpeá-lo, a autoridade humana, do mesmo modo, controla os outros através do uso do poder, coerção, exigências ou força superior, seja ela física ou psicológica.

Hoje, por exemplo, entre os grupos cristãos, esse tipo de autoridade está frequentemente escondido atrás da aceitação ou da rejeição do grupo. O líder manipula a opinião do grupo, o que serve como uma vara para disciplinar o desobediente.

A verdadeira autoridade espiritual, por outro lado, tem um sabor inteiramente diferente! Ninguém nunca pensaria em bater em alguém com um galho cheio de flores e frutos. O foco é outro, neste caso.

Para começar, os botões falam de algo novo, macio e fresco, algo que está vivo. Assim, vemos que essa autoridade espiritual está viva, cheia da vida divina. As flores nos falam de algo cheiroso, algo que tenha o doce perfume do caráter de Cristo. E os frutos nos falam de algo nutritivo; não de exigência, mas de satisfação.

Essas são as características da verdadeira liderança e autoridade espiritual. Portanto, aqueles que as estão exercendo exibirão as seguintes qualidades: Estarão cheios da vida de Deus, vivendo em comunhão íntima com Ele; Terão o doce aroma de Cristo, porque tiveram Seu caráter saturando suas vidas, tendo suas habilidades naturais e autoridade quebradas por Suas mãos; E, finalmente, serão uma fonte de alimento e satisfação, em vez de serem fontes de exigência seca, já que eles próprios estarão firmemente ligados à videira celestial.

Aqui, meus irmãos e irmãs, está o verdadeiro teste para toda e qualquer autoridade na Igreja cristã. Quais características esta autoridade demonstra? Que sabor e aroma ela tem? É verdade que estas coisas são discernidas espiritualmente e não podem ser compreendidas pelo homem natural, mas isso não nega o fato delas existirem.

Deus requer submissão à Sua autoridade. Portanto, é necessário que cada um de nós seja capaz de discernir e decidir o que vem verdadeiramente Dele e o que é apenas a vara do homem.

Em cada lugar e em cada grupo há aqueles que afirmam ter a verdadeira autoridade. Que Deus nos dê graça para discernirmos o sabor daquilo que vem genuinamente Dele. Que Deus também use este livro para ajudar o Seu povo em todo este importante empreendimento.

David W. Dyer



Capítulo 1: DOIS TIPOS DE AUTORIDADE


Iniciando nossa discussão sobre este tema tão importante, primeiramente precisamos afirmar que Deus é a fonte de toda autoridade. Ele detém o poder supremo. Ele é Aquele que está assentado no trono do universo e quem tem completo controle sobre todas as coisas. Consequentemente, podemos deduzir que qualquer outra autoridade que exista no universo foi estabelecida por Ele ou que, pelo menos, só existe com a Sua permissão. Sem o Seu consentimento, a sobrevivência de qualquer outra autoridade não seria possível.

Portanto, não importa onde encontremos autoridade neste mundo de hoje, seja ela boa ou má, sabemos que é algo que provém legalmente de Deus. Isso é exatamente o que as Escrituras ensinam. Governos humanos, policiais, juízes, pais, etc. são instituições estabelecidas por Deus para inibir as forças do mal neste mundo (Rm 13:1-7).

O tipo de autoridade que governos e outros administradores terrestres possuem é a chamada “autoridade delegada”. Como já vimos, Deus é o detentor da autoridade suprema, mas Ele escolheu “delegar” ou “dar” essa autoridade a outros indivíduos que supostamente agirão como Seus representantes. Uma vez entregue por Deus, a autoridade pertence às pessoas que a recebem. Embora sejam responsáveis perante Deus pelo seu uso, ela lhes pertence e pode ser exercida como quiserem. Na realidade, eles passam a ser a autoridade.

Autoridades delegadas podem exercer corretamente seu poder ou podem fazer mau uso dele. Podem ser bons governantes e decidirem o que é do melhor interesse de Deus e daqueles sobre os quais eles governam, ou podem ser maus e se utilizarem dessa autoridade em benefício próprio e em prejuízo de outros. Independente do modo como a usam, aqueles que estão no poder são autoridades delegadas por Deus.

Contudo, a autoridade delegada não é o único tipo de autoridade revelada na Bíblia. Existe uma outra variação que, embora também se origine em Deus, é bastante diferente. Para esclarecer melhor, creio que este tipo de autoridade pode ser considerado como “autoridade transmitida”.

Essa autoridade não pertence à pessoa que a está exercendo. Não é algo que lhe é “dado” para usar segundo suas próprias inclinações. Em vez disso, ela é exercida quando a pessoa está simplesmente transmitindo a autoridade de Deus.

Nesse caso, os envolvidos são somente canais, instrumentos através dos quais a autoridade Divina flui. Eles não possuem sua “própria” autoridade. Estão apenas atendendo às orientações do Altíssimo. Se Deus fala com eles referindo-se a outros, eles falam. Se Ele conduz as pessoas a tomar determinada atitude, elas agem. No entanto, essa autoridade nunca pertence a elas. Não importa o quão frequentemente sejam usadas por Deus para transmitir Sua autoridade; elas nunca passam a ser a autoridade.

POR QUE HOMENS DELEGAM AUTORIDADE?

Vamos meditar juntos sobre isto: Por que uma pessoa precisaria delegar sua autoridade a outros? Sem dúvida, seria por causa da incapacidade dela de fazer o trabalho necessário, ou talvez por se ausentar de lugares onde alguma coisa precisa ser decidida ou feita.

Os chefes de grandes companhias sempre precisam delegar autoridade aos subordinados que agem em defesa de seus interesses. Estes chefes-executivos não são qualificados para fazer todo tipo de trabalho nos diversos setores de uma empresa. Não conseguem estar presentes em todos os lugares, em todo o tempo. Eles possuem limitações que exigem o delegar de autoridade a outros, os quais agem por eles na sua incapacidade ou ausência. Esses outros são, então, “autoridades delegadas”, cuja autoridade depende da sua posição de subordinação em relação aos seus chefes.

Na Igreja, Jesus foi designado pelo Pai para ser o cabeça sobre todas as coisas (Ef 1:22). O governo deste grupo especial de pessoas está “sobre seus ombros” (Is 9:6). Ele, e somente Ele, deve deter o governo e direção do Seu povo. Toda autoridade no céu e na terra foi dada a Ele (Mt 28:18).

Jesus não delega Sua autoridade a outros a fim de complementar Sua tarefa. Ele não divide Sua autoridade em pequenas porções para que outros ajam em Seu interesse ou propósito. Ele não precisa fazer isso. Não existe nenhuma tarefa na Igreja que não seja capaz de realizar. Ele é Todo-Poderoso. Ele não está ausente do Seu corpo, é onipresente e está aqui conosco, em todo tempo. Por causa disso, não há nenhuma necessidade de delegar Sua autoridade para que alguém aja em Seu lugar.

As autoridades delegadas governamentais deste mundo existem porque Deus não está fisicamente presente. Portanto, essas autoridades terrenas têm sua própria autoridade e atuam no lugar Dele em Sua “ausência”.

Mas, na Igreja, Seu corpo, Jesus está bem presente através do Espírito Santo. Sendo assim, como Ele está presente, é o único que deve dirigir, liderar e iniciar todas as coisas. Na Igreja, nenhuma parte dessa autoridade, por menor que seja, deve ser usada por homens como se a mesma pertencesse a eles.

Pouco antes de Jesus subir ao céu, Ele disse a Seus discípulos: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos (...)” (Mt 28:18). Em seguida, Ele não disse: “E agora, estou dando a cada um de vocês um pouco dessa autoridade, para que façam a obra, enquanto estou fora”. Em vez disso, Ele continuou dizendo: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28:20). A Autoridade em pessoa estaria sempre com eles, manifestando-Se por meio deles, em qualquer tempo e em qualquer lugar em que se fizesse necessário.

Portanto, vemos que na Igreja, onde quer que a autoridade se manifeste, a pessoa que vemos não deve ter a autoridade em si ou estar com ela. Pelo contrário, deve ter uma exibição do Jesus invisível fluindo através da sua vida. Isso é o que chamamos de “autoridade transmitida”.

A AUTORIDADE HUMANA IMPOTENTE

Como vocês podem ver, a autoridade “posicional” ou “delegada” opera somente no plano natural, físico. Ela é ouvida através dos ouvidos da carne, produzindo reações que são humanas. Esta é a maneira pela qual os homens controlam uns aos outros no mundo físico. A autoridade que é exercida pelos pais, polícia e outros tem, de fato, seu lugar; ela faz parte deste mundo. Contudo, não tem nenhuma utilidade na edificação do Corpo de Cristo.

Muitos têm tentado, através de séculos, usar algum tipo de autoridade posicional, delegada, para edificar a Igreja, mas isso tem sido um terrível engano. Incontáveis figuras de autoridade têm tentado guiar, em bando, os filhos de Deus em uma ou outra direção. Eles têm ensinado, persuadido, insistido e, algumas vezes, ordenado, ainda que sem nenhum resultado espiritual. Muitos pastores, bispos, presbíteros e outros têm usado toda sua energia e autoridade tentando mover os crentes na direção em que eles creem que as pessoas devem seguir espiritualmente, mas o resultado não tem sido a perfeição dos santos.

Embora a autoridade delegada possa ser usada para produzir algum efeito visível na vida de alguns cristãos, estes resultados não são eternos. Não há uma transformação real. Por exemplo, algumas figuras de autoridade na Igreja têm exercido pressão sobre aqueles que estão sob seu controle e os manipulam para efetuar uma mudança em seus hábitos ou comportamento. Talvez estes “crentes submissos” tenham mudado a maneira de se vestir, o modo de falar ou, até mesmo, tenham começado a administrar seu dinheiro de uma maneira melhor.

Ainda assim, tais mudanças são somente terrenas e temporárias. Elas trabalham externamente, em vez de internamente, onde reside o homem espiritual. Essas mudanças não são o resultado de um crescimento espiritual, mas de uma pressão terrena, humana. Estas pessoas têm sido conformadas a um padrão, mas não transformadas à imagem de Cristo.

A verdade é que o Exército é mais eficiente em mudar o comportamento de homens e mulheres do que a Igreja. Lá, os recrutas são sujeitos a uma tremenda pressão, noite e dia, até terem adquirido a forma do padrão do Exército. Isso, porém, não é transformação. Não é a salvação da alma que Deus deseja. Não é algo de valor eterno que resulta da vida de Deus crescendo dentro deles.

Essa autoridade posicional é de origem terrena e não pode produzir resultados espirituais. Ela não pode fazer nada para ajudar homens e mulheres a crescer em Cristo. Ela não pode produzir mudanças eternas. Somente a autoridade espiritual genuína pode operar de modo efetivo para verdadeiramente transformar a alma à imagem de Cristo. O alvo não é simplesmente modificar o comportamento dos homens. Em vez disso, é ver Jesus Cristo crescendo e sendo formado em todos os crentes. Para que isso ocorra, apenas a autoridade direta de Deus deverá operar.

Somente a voz de Deus falando no espírito de Seus filhos criará dentro deles o que Ele está procurando. É quando ouvem Sua voz que eles são cheios de Sua vida (Jo 5:25). Esta “palavra” de Deus pode ser – e frequentemente é – transmitida através de outros crentes. Existem muitos membros do Corpo de Cristo que Deus pode usar. Mesmo assim, não é a voz deles que é ouvida, mas a voz de Deus. Ele é o único que tem o poder de falar a eles, a fim de efetuar uma nova criação em seus corações.

O EXEMPLO DE MOISÉS

Moisés é um exemplo de alguém que exerceu essa autoridade “transmitida” por Deus. Ele não estava guiando os filhos de Israel de acordo com suas próprias ideias ou direções. Ele não estava expressando a si próprio. À medida em que se lê, no Antigo Testamento, sobre como retirou os israelitas da escravidão, fica bem claro que ele se movia e falava de acordo com instruções sobrenaturais. Cada passo dado, cada lei e cada ordem, cada detalhe do tabernáculo, tudo foi executado segundo uma direção espiritual.

Ele não tomou posição ao exercer uma autoridade conferida a ele. Não estava formulando seus próprios planos, nem tomando suas próprias decisões. Pelo contrário, apenas permitia que Deus o usasse para transmitir Sua autoridade ao povo. Quando a autoridade de Moisés foi desafiada por Coré e sua gente, ele resumiu sua posição desta forma: “Nisto conhecereis que o Senhor me enviou a realizar todas estas obras, que não procedem de mim mesmo” (Nm 16:28).

Nosso Senhor Jesus Cristo foi o supremo exemplo de tal autoridade espiritual transmitida. Ele não veio para fazer Sua própria vontade mas, em vez disso, submeteu-Se à vontade do Pai (Jo 14:10). Quando Jesus expulsou demônios, revelou a autoridade do Pai. Quando amaldiçoou a figueira, foi a voz do Pai que foi ouvida (Mt 21:19). Quando repreendeu o vento e as ondas, foi a autoridade do Pai que foi demonstrada (Lc 8:24).

Cada aspecto do Seu viver era a manifestação do Deus invisível. Mesmo estando qualificado para fazê-lo, Ele nunca exerceu Sua própria autoridade, mas, em vez disso, permitiu que Seu Pai fluísse através Dele.

Então, vemos que há dois tipos diferentes de autoridade presentes no mundo, hoje. Uma é terrena, do tipo humana – uma autoridade delegada – que é exercida pelo homem, acatada pelo homem e reconhecida por aqueles que vivem nesta Terra. Essa autoridade é inevitavelmente acompanhada por adereços superficiais que ajudam o ser humano a identificar essas pessoas. Posições, títulos, uniformes e muitas outras manifestações externas servem para identificar aqueles que têm autoridade delegada.

Este tipo de autoridade está sempre procurando o reconhecimento de outros homens. Na verdade, ela necessita desse reconhecimento para funcionar. É uma autoridade natural e secular, que foi planejada por Deus para atrair a natureza caída do homem. É algo que Deus instituiu, que opera de acordo com a moda deste mundo a fim de governar as pessoas do mundo.

A outra espécie de autoridade é a espiritual, do tipo transmitida. É através dessa autoridade que Deus planeja governar Seu povo. Esse tipo é manifestado em diferentes indivíduos, mas não pertence a eles. Eles, por si só, nunca se tornam a autoridade, são meramente condutores através dos quais a autoridade divina flui.

Nesse tipo de autoridade, o envolvido é simplesmente um canal através do qual a liderança de Deus flui. Ele não precisa de qualquer título, roupas especiais ou honraria para reforçar o que diz. Não está tentando impressionar os outros para que o obedeçam. Sua posição é a de alguém submisso a Deus. Consequentemente, a palavra de Deus flui dele para os outros. Deste modo, a verdadeira autoridade de Jesus é revelada à Sua Igreja.

O primeiro tipo de autoridade foi ordenado por Deus para governar o mundo. O segundo tipo, espiritual, é para governar Seu povo, Sua Igreja. Esta é uma diferença muito importante. Cada uma das autoridades é válida, mas tem sua própria esfera.

Infelizmente, os crentes, hoje, confundem com frequência esses dois tipos de autoridade. Alguns nem mesmo estão cientes de que há esta distinção. Como consequência, muitas vezes, tentam usar a autoridade humana para construir a Igreja. Usando métodos humanos, tentam trazer a ordenança divina para o Corpo de Cristo, mas isso, simplesmente, não funcionará

O DESEJO DE DEUS

Um desejo profundamente enraizado no coração de Deus é que o povo Dele corresponda com Ele, sem reservas. Ele anseia exercer o governo absoluto sobre Seu povo. Acima de tudo, Seu desejo é que cada pessoa tenha intimidade com Ele e seja capaz de seguir Sua liderança. Seu pensamento é que não exista obstáculo algum entre Ele e o Seu povo.

A respeito do povo de Israel, a intenção de Deus era que todos fossem sacerdotes (Êx 19:6). Hoje, em Sua Igreja, Seu desejo é o mesmo. Ele deseja que cada pessoa Lhe conheça de uma maneira pessoal e profunda, capacitando-lhes a corresponder com até o menor dos Seus desejos.

A realidade, porém, é que nem todos estão desfrutando dessa experiência. Para combater este problema, Deus escolhe indivíduos para transmitir a autoridade Dele, capacitando outros a entenderem Sua vontade, a se moverem na direção certa.

A princípio, Ele prepara e unge estes vasos escolhidos e, depois, usa-os como condutores da Sua autoridade. Tais homens e mulheres necessitam ser quebrados por Deus de um modo que fiquem com temor de usar sua própria autoridade. Depois, Deus começa a usá-los para transmitir Sua autoridade ao Seu povo. Eles tornam-se porta-vozes nas situações em que os outros são resistentes ou incapazes de ouvir a Deus por si mesmos.

O objetivo de Deus – refletido nos corações dos servos sendo usados – em fazer isso é trazer os outros para uma intimidade com Deus que Ele deseja. Depois de Moisés, Deus continuou a usar esse tipo de autoridade para liderar Seu povo. O próximo líder a quem Deus usou bastante foi Josué. Mais tarde, quando a necessidade surgiu, o Senhor levantou vários juízes para transmitir Sua vontade.

Há vários capítulos, no Velho Testamento, descrevendo como Deus falou por meio desses juízes e também os grandes feitos que Ele os levou a fazer. Entretanto, durante todo este tempo, o desejo Dele era que todo o povo pudesse Lhe conhecer de um modo íntimo e ser capaz de seguir Sua liderança diretamente. Ele levantou líderes, quando necessário, mas o fato de que Ele deseja que todos conheçam Sua autoridade e Seu reino por si mesmos nunca mudou.

HOMENS NATURAIS DESEJAM UM REI

Por alguma razão estranha, os filhos de Israel não estavam satisfeitos com o plano de Deus. Eles tinham um desejo diferente em seus corações. Desejavam uma autoridade humana, palpável. Ansiavam por alguém que pudessem ver, ouvir e sentir. Sentiam-se muito mais confortáveis com algo natural. Queriam alguém que pudesse operar como autoridade delegada. Sentindo-se insatisfeitos com sua autoridade espiritual, vieram a Samuel e insistiram para que ele estabelecesse um rei terreno para eles (1 Sm 8:5-20).

Talvez possamos identificar dois motivos para este desejo enigmático. Em primeiro lugar, ter um rei iria desobrigá-los da responsabilidade pessoal de buscar a Deus sozinhos. Agora, seu “líder” faria isso por eles. Além disso, ele assumiria toda a responsabilidade, cuidaria de todos os problemas, decidiria todas as direções que deveriam tomar e lutaria suas batalhas. Tudo o que precisariam fazer seria sentar e assistir de camarote.

Em segundo lugar, eles estavam querendo ser iguais às outras nações. Parece que se sentiram estranhos sem uma autoridade mundana. Sentiram-se um pouco inseguros com um líder invisível e intangível. Ansiavam por alguém que pudessem ver e ouvir com seus sentidos físicos. Para eles, a autoridade de Deus não era suficiente. Queriam ser iguais às nações ímpias ao seu redor.

Quando Samuel ouviu este pedido, ficou muito irado. Ele sabia quais eram as intenções de Deus e compreendia que Deus o estava usando para transmitir a liderança Divina ao povo. Samuel ficou aflito, porque a nação que Deus havia escolhido como Sua, iria tomar o caminho errado. Entretanto, o Senhor lembrou-o de que não era ele quem estava sendo rejeitado. O povo não estava abandonando um homem, estava recusando a soberania de Deus em suas vidas (1 Sm 8:7-8).

É uma evidência do grande amor de Deus pelos homens e de Sua graça abundante, o fato de Ele não ter desamparado os israelitas, mesmo quando O estavam abandonando. Ele os deixou seguir seu próprio caminho, mas primeiro explicou-lhes que o pedido seria ruim para eles.

A autoridade humana, terrena, iria feri-los de três maneiras: 1) Iria tirar deles seus filhos e filhas; 2) Iria requerer uma porção de suas propriedades; 3) Iria levá-los a uma escravidão da qual Deus não os libertaria (2 Sm 8:9-18). Ele permitiu que seguissem seu próprio caminho, porque percebeu que seus corações já O haviam abandonado, mas está bem claro que este não era o Seu desejo.

UMA MENSAGEM PARA OS DIAS DE HOJE

Percebamos que todos estes exemplos do Velho Testamento não são apenas histórias interessantes. Na verdade, eles foram registrados com uma intenção específica: que pudéssemos perceber neles verdades espirituais. Assim como era naquela época, hoje nós também temos escolhas a fazer no que se refere à autoridade.

Claro que, como habitantes deste mundo, devemos nos submeter às autoridades terrenas (1 Pe 2:13). Com relação à nossa interação com o mundo, está bem claro que a autoridade delegada se aplica a nós.

Com relação à nossa participação na igreja, essas duas variações de liderança também estão presentes – tanto a autoridade humana, como a autoridade espiritual. Um tipo é estabelecido pelo homem e fortalecido por todos os sustentáculos comuns, tais como títulos, posições e roupas elegantes. O outro tipo é estabelecido por Deus e é confirmado pelo Seu Espírito.

No Corpo de Cristo temos uma escolha. Por um lado, podemos aprender a reconhecer a autoridade de Deus e a nos submeter a ela, seja quando Ele nos fala pessoalmente ou quando Sua vontade está sendo transmitida através de Seus vasos. Por outro lado, podemos nos sujeitar a algum tipo de autoridade humana, delegada, que é estabelecida e reconhecida pelo homem. Temos diante de nós os dois caminhos: o terreno e o celestial.

Sem dúvida nenhuma, Jesus Cristo deseja exercer Sua devida autoridade sobre Sua Igreja. A doutrina na qual Ele é o cabeça sobre todas as coisas (Ef 1:22), onde Sua preeminência (Cl 1:18), e Seu total controle estão sobre cada aspecto da Igreja não é um ensino obscuro. O fato de que cada membro do Corpo deve desenvolver um relacionamento íntimo com Ele, capacitando-os a sentir Sua liderança cada vez mais, não é surpreendente.

Mais uma vez, entendemos que é vontade Dele que todos sejam sacerdotes (1 Pe 2:5). Mais uma vez, não é Sua vontade que qualquer outro ser humano fique entre nós e Ele. Deus anseia reinar pessoalmente sobre cada um de Seu povo, para que eles, como um só corpo, possam expressar os propósitos e a vontade Dele. Isso sempre foi, e até hoje é, um ponto essencial em Seus planos para o homem.

AUTORIDADE NA IGREJA

Há, certamente, necessidade de autoridade na Igreja. Não há dúvida de que Deus usa homens para serem líderes e exemplos para outros e para atraí-los a um relacionamento com Cristo.

No entanto, que tipo de autoridade deveria ser essa? Uma autoridade que é derivada de uma “posição” na congregação? Ela vem de uma indicação para ser ancião, pastor, diácono ou algo similar? Um título ou um “cargo” qualifica um homem para liderar o povo de Deus? Essa responsabilidade é conferida a alguém por outros homens que também possuem algum título, educação ou posição? Vem por algum tipo de voto de confiança dado pela maioria? Ou esta honra é colocada sobre alguém pela virtude de ter a personalidade mais forte do grupo?

Certamente não! Todos esses itens são apenas métodos terrenos que servem só para impedir os propósitos de Deus e levar as pessoas à escravidão. Como vimos, a genuína autoridade espiritual emana do próprio Deus. Aqueles que exercem tal autoridade são vasos preparados que transmitem os pensamentos e desejos de Deus para o Seu povo. É esse tipo de autoridade que deveríamos estar exercendo na igreja, hoje.

Precisamos, desesperadamente, de homens que falem só quando Deus fala com eles, que liderem de acordo com Sua direção e que manifestem Suas revelações. A grande necessidade atual não é daqueles que foram treinados, eleitos ou indicados para posições de autoridade, mas daqueles que são íntimos de Deus e através dos quais Ele pode transmitir livremente Sua vontade. Existe uma grande diferença entre esse tipo de autoridade e aquela que é manifesta pela carne.

Sim, a Bíblia diz que Paulo instruiu Tito a “constituir” presbíteros em cada igreja (Tt 1:5), mas o que este termo realmente significa? W. E. Vine, em sua obra chamada Expository Dictionary of New Testament Words (Dicionário Expositor de Palavras do Novo Testamento), diz o seguinte: “(...) não se trata de uma ordenação eclesiástica formal, mas sim da ‘designação’, para o reconhecimento das igrejas, daqueles que já tinham sido levantados e qualificados pelo Santo Espírito e dado evidência disso em suas vidas e em suas obras” (Edição de 1966, em inglês. Infelizmente, a edição atual deste livro não retém os pensamentos originais do autor).

Você vê que os apóstolos não estavam arbitrariamente selecionando homens que preenchessem certas qualificações, ou que talvez estivessem mais desejosos de prosseguir com a programação deles, ou que possivelmente tivessem muito dinheiro ou influência na comunidade. Pelo contrário, com olhos espirituais, eles estavam “indicando”, para benefício daqueles que não podiam ver tão claramente, aqueles que Deus já havia selecionado e preparado para usar como Seus vasos.

A autoridade espiritual genuína não vem por uma seleção para uma “posição” ou “diaconato”. Embora certos homens tenham adquirido, no Novo Testamento, rótulos como “ancião”, “diácono” ou “apóstolo”, a autoridade deles não veio por causa de uma “posição”. Na verdade, é exatamente o contrário.

Não devemos entender estes nomes como se estivessem indicando posições de autoridade dentro da igreja. Em vez disso, são meramente descrições das funções desses homens. Tais designações vieram como resultado do profundo trabalho espiritual que Deus fez no interior deles.

Era uma maneira de descrever suas funções especiais no Corpo. Em alguma área específica, Deus preparou esses homens para serem canais de Sua autoridade. Esses nomes foram usados para identificar as áreas de serviço, não para qualificá-los para elas!

Um dano incalculável tem sido causado ao povo de Deus por meio da má interpretação deste princípio. Muito frequentemente homens são indicados por outros homens para uma “posição”, porque pensam ser necessário haver algum tipo de autoridade na igreja. Perda e prejuízo tremendos têm sido experimentados pelo povo de Deus, por causa desta prática.

Quando estabelecemos na Igreja de Deus a autoridade delegada, terrena, estamos oferecendo uma substituição para a verdadeira. Quando elegemos ou indicamos homens de acordo com a razão ou a percepção humana, estabelecemos uma variedade de autoridade que é estranha ao plano de Deus e que será apenas um impedimento para Sua perfeita vontade.

A razão para isso é que, não importa o quão “fiel” às Escrituras ela pareça ser, a autoridade hierárquica nunca pode produzir resultados espirituais. Nada que se origine no nível terreno pode chegar aos desígnios de Deus. A Bíblia é bem clara: “A carne para nada aproveita” (Jo 6:63). A autoridade humana nunca pode transmitir o poder necessário para transformar vidas humanas. Ela não pode atingir o interior de uma pessoa e transformar seu coração.

O melhor que toda autoridade delegada pode produzir é um tipo de arranjo terreno que se aproxima do trabalho do Espírito. Além de não efetuar algo de valor eterno, ainda rouba dos crentes a oportunidade de experimentar a realidade de Cristo.

Por favor, não compreendam mal. Esforços humanos movidos pela autoridade natural podem ser capazes de realizar coisas notáveis no mundo religioso. Campanhas de “avivamento”, acionamento de membros, levantamento de fundos e projetos de construção podem ser executados por uma forte liderança humana.

Entretanto, lembremo-nos de que “sucesso” não é a medida para nossas realizações espirituais. Não importa quão grandiosos ou impressionantes nossos trabalhos possam parecer; se eles foram construídos com substâncias erradas – elementos terrenos em vez de sobrenaturais – serão destruídos no Dia do Julgamento.

AS CONSEQUÊNCIAS DOS REIS ATUAIS

É verdade que Deus permitiu a Seu povo seguir seu próprio caminho e indicou-lhe um rei. Embora Ele não o quisesse, continuou a trabalhar o máximo possível através deste sistema errado a fim de levar Seu povo a uma intimidade com Ele. Da mesma forma, hoje, Ele tolera nosso comportamento desobediente quando estabelecemos para nós mesmos uma autoridade terrena em Sua Igreja.

Em Sua abundante misericórdia e graça, Ele opera, mesmo em meio a nossos “sistemas de reis”, o máximo que pode, para cumprir Seus propósitos. Esta, porém, não é a Sua perfeita vontade e isso nunca poderá realizar Seus mais sublimes desejos. Pelo contrário, a Bíblia deixa bem claro que estabelecer tal autoridade é o mesmo que rejeitar a do Senhor e um grave erro.

As três consequências desse erro, que Samuel tão claramente predisse, são as seguintes:

1) Rouba das pessoas seus frutos espirituais (filhos e filhas). A autoridade humana paralisa o Corpo de Cristo por colocar suas próprias orientações e planos no lugar do Espírito Santo. Embora essa autoridade possa ser bem intencionada e ter mesmo muitos programas – tais como “metas evangelísticas” – o poder tremendo do Evangelho é diminuído quando a substituição é feita.

Um resultado desfavorável disso, é que os cristãos tendem, naturalmente, a olhar para a autoridade humana em busca de direção e aprovação, em vez de serem continuamente dirigidos pelo seu verdadeiro Cabeça. Como consequência, aqueles que estão sob esse tipo de autoridade hesitam em iniciar algo sozinhos, com receio de que isso seja visto como um desafio à posição do líder.

Com o passar do tempo, tornam-se incapazes de serem dirigidos pelo Espírito Santo. Isso rouba poder e fruto espiritual dos cristãos. Conforme a intimidade com a verdadeira Autoridade é substituída por algo humano e fraco, o fruto produzido em cada faceta da vida espiritual é diminuído.

2) A autoridade humana demanda o dinheiro das pessoas (suas posses). É inquestionável que a importância de qualquer posição terrena é julgada pela sua esfera de influência e por sua extravagância. Quanto mais pessoas um líder tem sob sua autoridade, mais importante ele é. Quanto maior o território que ele governa, maior prestígio tem. Normalmente, acompanhando esta elevação perante os olhos humanos, estão roupas extravagantes, meios de transporte mais caros e moradias mais luxuosas.

Na igreja de hoje não é diferente. Quase invariavelmente, conforme cresce a influência de um líder, cresce também o seu desejo de conseguir lugares de encontro que sejam maiores e mais impressionantes, um guarda-roupa mais condizente com sua posição e, em geral, um aumento de salário. Tudo isso, inevitavelmente, custa dinheiro; e esse dinheiro vem daqueles que se colocam sob a influência dessa autoridade terrena.

Pare um momento e compare isso com o exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele não tinha lugar para apoiar Sua cabeça e, provavelmente, também não tinha uma muda extra de roupas. Ele nunca construiu palácios ou templos. Constantemente recusava qualquer posição de autoridade terrena. Seu pagamento era o que o Pai movia os outros a Lhe dar. Como fica o que estamos fazendo, comparado com isto? Será que somos realmente seguidores de Jesus ou estamos só usando Seu nome para nosso próprio benefício?

É verdade que as Escrituras nos exortam a dar nosso dinheiro para a obra e para os obreiros de Deus. No entanto, se usarmos nossas rendas para sustentar autoridades e projetos simplesmente humanos, não seremos recompensados. Quando o fogo de Deus descer, tudo que tiver sido construído com materiais naturais (madeira, feno e palha) será consumido e nosso dinheiro, tão dificilmente ganho, desaparecerá com eles na fumaça.

Por outro lado, se formos cuidadosos e investirmos nosso dinheiro em coisas que são verdadeiramente espirituais, nosso investimento produzirá frutos para a eternidade. Quando usamos nossas finanças para sustentar pessoas necessitadas, trabalhos e líderes verdadeiramente espirituais, jamais perderemos nossa recompensa.

3) A autoridade não espiritual leva o povo de Deus a ser escravo da vontade humana, usando seu tempo, energia e talentos para construir uma organização terrena, em vez de um corpo espiritual. A autoridade natural, com todos os seus planos e programas, necessita de pessoas para fazer o trabalho. Então, quando você se coloca sob tal autoridade, passa a permitir que o usem como um instrumento para tais empenhos.

Além disso, na mesma proporção em que se submete a ter sua vida governada por uma autoridade humana, você exclui a autoridade do Espírito. Não dá para servir a dois senhores. É inevitável que surja um conflito entre os dois. Seu Mestre celestial deseja dirigir cada aspecto de sua existência e qualquer outra autoridade só irá ser competitiva e frustrante.

Quando você escolhe a maneira terrena, como os israelitas fizeram, se torna um escravo da vontade e dos caprichos humanos, em vez de experimentar a verdadeira liberdade da submissão a Deus.

Esta é uma escravidão da qual Deus não vai nos libertar (1 Sm 8:18). Deus nunca violará nossa vontade. Quando escolhemos algo, Ele não irá nos forçar a mudar de decisão. Ele pode trabalhar de muitas maneiras diferentes para nos fazer ver nosso erro. Podemos descobrir e perceber Sua presença em nossa vida abatida. Podemos começar a achar que problemas que pareciam ser pequenos quando estávamos caminhando em intimidade com Jesus, agora parecem insuperáveis. Ele pode, até mesmo, permitir que nos tornemos miseráveis no caminho que escolhemos.

Entretanto, quando voluntariamente nos sujeitamos à autoridade humana, Deus não nos livra dela. Nossa única alternativa é reverter a escolha. Devemos exercitar nossa própria vontade e escolher nos afastar de qualquer autoridade na Igreja que seja uma substituição da autoridade do Senhor.

Isso pode ser uma surpresa para muitos, mas, apesar disso, é verdade. Quando nos submetemos à autoridade terrena, realmente nos colocamos debaixo de uma maldição. A Palavra diz: “Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor” (Jr 17:5-6).

Note bem como confiar no homem e afastar-se de Deus estão ligados. Quando você olha para seres humanos, não pode evitar de tirar os olhos de Deus. Um outro verso nos adverte: “Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação”. E continua: “Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no Senhor, Seu Deus” (Sl 146:3 e 5).

Pela discussão precedente, deve estar evidente que há dois tipos básicos de autoridade disponíveis para nós, hoje. Há o tipo superficial, terreno, chamado “autoridade delegada”, a qual Deus usa para exercer algum controle sobre aqueles que não O conhecem e nem O seguem.

E há a “autoridade espiritual”, transmitida, que sempre foi escolhida por Deus para governar Seu povo. Uma é para o mundo; a outra é para Sua Igreja. Uma funciona, de certa forma, independente de Deus, enquanto a outra não. Na verdade, esta não pode sequer funcionar, a menos que Deus esteja falando ou Se movendo.

TEMOS QUE ESCOLHER

Hoje, na Igreja de Cristo, esses dois tipos de autoridade estão sendo exercidos. Portanto, como membros da Igreja, cada um de nós é confrontado com uma escolha importante. Se nós nos submetemos ao tipo humano, hierárquico, esta autoridade impedirá e, eventualmente, substituirá o tipo espiritual. Se, pelo contrário, nós nos rendemos à autoridade celestial, esta irá, inevitavelmente, entrar em conflito com a terrena.

Como já vimos, essa decisão é extremamente importante. De fato, é crucial. Se escolhemos caminhar pelo caminho amplo e fácil, sem dúvida encontraremos muita companhia e poderemos, até mesmo, gozar de um bom grau de popularidade, mas os efeitos sobre os quais Deus tão claramente nos advertiu virão sobre nós.

Se, por outro lado, escolhemos o caminho mais difícil e mais estreito, sem dúvida haverá tempos em que nos encontraremos sozinhos e, querendo ou não, estaremos enredados no conflito entre esses dois tipos de autoridade.

Os primeiros apóstolos e, na verdade, o próprio Jesus, encontraram-se neste tipo de situação. Embora não a tivessem procurado, encontraram oposição contínua daqueles que ocupavam “posições” na organização religiosa estabelecida em seus dias. As autoridades tradicionais viram algo muito claramente: Se permitissem que esta manifestação da autoridade espiritual seguisse de forma descontrolada, em algum momento, ela substituiria a deles.

De algum modo, eles foram capazes de reconhecer que esta era, em essência, um tipo superior de autoridade, que estava destinada a suplantar seu tipo inferior, humano. Seus corações não estavam em sintonia com o coração de Deus e, então, eles lutaram para manter o seu “lugar”, que tanto gostavam (Jo 11:48).

No processo fizeram tudo o que podiam para suprimir a autoridade mais alta. Finalmente, quando já haviam exaurido todas as outras opções, reuniram-se para matar os representantes de Deus.

Como é fácil querer evitar aborrecimentos! Com certeza, a nossa tendência natural é simplesmente prosseguir com o “status quo” e “ser como qualquer outro” (2 Sm 8:5). Todavia, não estamos em nenhuma posição diferente de nossos antecessores ou de nosso Senhor. Se queremos verdadeiramente seguir a Jesus, Seus conflitos se tornarão os nossos.

Então, mais uma vez, teremos essas duas escolhas. Podemos preservar nossa paz e felicidade pessoal ou preparar-nos para compartilhar os sofrimentos de Cristo. Podemos nos submeter ao homem ou nos humilhar sob a mão poderosa de Deus (2 Pe 5:6).

O PROBLEMA DA INVISIBILIDADE

Um dos problemas encontrados quando falamos sobre autoridade transmitida versus autoridade posicional é que Jesus, hoje, é invisível. Não podemos vê-Lo com nossos olhos físicos. O homem natural tem confiança em coisas que são tangíveis, coisas que se podem ver, ouvir, sentir ou provar. Para ele, coisas invisíveis são difíceis de se perceber e compreender e, portanto, as considera sem valor real.

A consequência disso é que, para novos crentes e aqueles que não têm crescido espiritualmente, é muito mais fácil gravitar na direção terrena da autoridade posicional. Eles não têm facilidade para compreender as coisas espirituais. Para muitos deles, ter uma pessoa com um título e posição de autoridade que dirija suas vidas é muito mais simples e seguro do que pensar em precisar ouvir alguém invisível e segui-Lo.

Nosso relacionamento com o Jesus ressurreto e vivo é pela fé. Através de nossa fé, entendemos e percebemos aquilo que é invisível, inclusive a presença e a liderança de nosso Senhor Jesus Cristo. É impossível conhecê-Lo e segui-Lo sem fé.

Seguir, simplesmente, instruções bíblicas não será suficiente. Devemos, através da fé, entrar numa intimidade pessoal com Jesus, aprender a reconhecer Sua voz e a segui-Lo. Desta forma, Ele pode nos guiar em toda Sua vontade.

NEM SEMPRE BRANCO E PRETO

Infelizmente, na Igreja, a distinção entre a autoridade posicional terrena e a verdadeira autoridade espiritual não é claramente definida. Em vez disso, há, frequentemente, uma mistura desses dois tipos de autoridade. Alguns homens que expressam certa dose de autoridade espiritual têm permitido que outros homens os coloquem em posições terrenas.

Outros, é possível que tenham, até mesmo, buscado essas posições por conta própria. Isso, por conseguinte, coloca estes líderes em uma situação na qual podem exercer, e provavelmente exercem, ambos os tipos de autoridade.

Muitas vezes, os próprios líderes são incapazes de distinguir entre os dois tipos de autoridade. Eles não foram ensinados ou não são maduros o suficiente para compreender as implicações de exercer cada tipo. Portanto, cabe a cada indivíduo saber, de acordo com a revelação do Espírito Santo, a quais direções e liderança ele (ou ela) deverá se submeter e quais deverão ser recusadas.

Nesta decisão extremamente importante, temos que ser muito cuidadosos. Há dois modos pelos quais podemos nos enganar seriamente. Por um lado, a rebelião carnal contra a autoridade terrena não agrada a Deus. Quando nós discernimos que a autoridade natural está sendo substituída pela de Deus na igreja, se a nossa reação a isso não for caracterizada por brandura, humildade e amor, ela não é a resposta do Espírito. Quando manifestamos ódio ou ira, a obra de Deus não é realizada. Não podemos permitir que nossa carne reaja ao que vemos, mas temos que ser dirigidos em todos os aspectos pela Suprema Autoridade.

Em geral, a resposta de Jesus enquanto estava na Terra era não confrontar e condenar mas sim seguir no verdadeiro trabalho de Deus. Não fomos chamados para uma rebelião aberta contra qualquer autoridade hierárquica, mas, tão somente, para nos submeter à vontade superior.

Por outro lado, não queremos, e de fato não podemos, perder a direção sobrenatural de Deus, especialmente quando essa direção vem através de outros vasos humanos. Não podemos, simplesmente, rejeitar toda e qualquer autoridade que seja expressa através dos homens. É essencial que nós nos humilhemos nesse assunto diante de nosso Criador e que estejamos certos de que queremos obedecer à Sua voz, onde quer que ela seja ouvida. Precisamos desejar segui-Lo, no que Ele disser. Se não temos esta atitude de coração, acabaremos certamente rejeitando não apenas a autoridade humana, como também toda autoridade. Nossa condição será de rebeldes independentes que têm pouca serventia para Deus. A verdade é que, se não podemos nos submeter ao Senhor quando Ele fala através de nossos irmãos e irmãs, realmente não somos submissos a Ele.

A questão óbvia que surge de toda essa discussão é: “Como podemos saber a diferença entre a autoridade que é espiritual e aquela que é da terra?”. A resposta é muito simples, mas não é fácil. Além de uma revelação do Santo Espírito, não há outra maneira de saber. O homem natural não é capaz de diferenciar as duas. Só aqueles que têm visão espiritual poderão saber o que vem de Deus e o que não vem. É algo que precisa ser discernido.

Portanto, é essencial que cada filho de Deus cultive uma intimidade com Ele. Cada um de nós é responsável por desenvolver e manter um relacionamento espiritual com nosso Senhor. Ninguém mais irá fazer isso por nós. Não podemos crer que algum tipo de "rei" vá se encarregar das responsabilidades.

Desde os primórdios do povo de Israel, o desejo de Deus continua o mesmo. Em Seu coração, Ele anseia que nós permitamos ser levados a um profundo relacionamento com Ele. Deste modo, repousando no colo de Jesus como João (Jo 13:23), chegaremos a compreender tudo o que Ele julga necessário que saibamos.

Final do Capítulo 1

Ler outros capitulos online:

Capítulo 1: DOIS TIPOS DE AUTORIDADE (Capítulo Atual)

Capítulo 2: A REBELIÃO DE CORÁ

Capítulo 3: A SARÇA ARDENTE

Capítulo 4: A FORMA DE UM SERVO

Capítulo 5: O CABEÇA DE CADA HOMEM

Capítulo 6: O CABEÇA DO CORPO