Ministério Grão De Trigo

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AUTORIDADE ESPIRITUAL GENUÍNA

A REBELIÃO DE CORÁ

Capítulo 2

Autoridade Espiritual Genuina, livro por David W. Dyer

Publicacao Grao de Trigo

Escrito por David W. Dyer

ÍNDICE

Capítulo 1: DOIS TIPOS DE AUTORIDADE

Capítulo 2: A REBELIÃO DE CORÁ (Capítulo Atual)

Capítulo 3: A SARÇA ARDENTE

Capítulo 4: A FORMA DE UM SERVO

Capítulo 5: O CABEÇA DE CADA HOMEM

Capítulo 6: O CABEÇA DO CORPO





Capítulo 2: A REBELIÃO DE CORÁ


Muitos anos atrás, quando os filhos de Israel estavam acampados no deserto, levantou-se uma discussão entre eles sobre quem deveria exercer a autoridade. Moisés e seu irmão Arão vinham liderando o povo de Deus até aquela ocasião.

Moisés tinha vindo ao Egito e, junto com seu irmão Arão, falado a Palavra de Deus para os israelitas e para o faraó e, mais tarde, conduzido o povo de Deus para fora de sua escravidão em direção ao seu destino divinamente escolhido. Esse foi um tempo maravilhoso na história do povo de Deus, durante o qual o poder de Deus e Sua vitória sobre as forças do mal foram demonstradas dramaticamente.

Entretanto, com o passar do tempo, alguns dos outros homens da congregação se desiludiram com o exercício de autoridade de Moisés e de Arão. Esses outros homens (mais de 250 pessoas) também eram líderes na congregação e bem conhecidos entre as pessoas (Nm 16:2). Eles começaram a questionar o porquê de Moisés e Arão estarem “se colocando como autoridades” e “exaltando a si mesmos” acima de todos os demais (Nm 16:3).

Seu raciocínio era algo assim: “Somos todos ‘cristãos’ aqui. Deus está entre todos nós. Qualquer um na congregação é tão santo quanto qualquer outro. Aos olhos de Deus somos todos iguais. Quem esses dois pensam que são? Nossa compreensão da vontade de Deus é tão válida quanto a deles. Por que deveríamos seguí-los?”

Agora, este tipo de raciocínio é fácil de entender. É perfeitamente natural pensar desta maneira quando somos confrontados com a autoridade espiritual. No início, quando alguém surge com uma palavra do Senhor e manifesta uma unção espiritual, é fácil impressionar-se e prestar atenção no que dizem. Contudo, depois de algum tempo, quando você conhece a pessoa e percebe suas falhas humanas e fraquezas – quando a primeira “aura” de impressão espiritual se foi – este tipo de pensamento começa a surgir.

Não é difícil simpatizar com aqueles homens e com as razões pelas quais pensavam daquela maneira. Moisés tinha prometido trazê-los para uma terra onde havia bastante leite e mel, mas em volta deles só se via deserto. Ele lhes havia dito que Deus desejava abençoá-los abundantemente, mas até mesmo o Egito tinha sido mais confortável que aquilo. Eles tinham olhos no rosto; podiam ver que não estavam tomando o rumo mais rápido para seu destino.

Aquele Moisés também estava mantendo as coisas em família, indicando seus parentes para o sacerdócio. Só um tolo continuaria a ser guiado por aqueles dois sem expressar um pouco a sua própria opinião. Será que Moisés pretendia manter todos eles cegos para que ele e seu irmão pudessem permanecer nas posições de autoridade? (Nm 16:14).

Conforme vamos lendo, descobrimos que a reação de Deus a este processo de pensamento foi extremamente severa – na verdade, tão severa, que muitos ficaram chateados e iraram-se.

Aqueles que não responderam à intimação de Moisés para a tenda da congregação foram engolidos vivos pela terra. Aconteceu algo inédito e aqueles homens, com suas famílias inteiras, caíram no abismo (Nm 16:30-33).

Em seguida, desceu fogo do céu e consumiu os 250 remanescentes. Então, como se este julgamento devastador e terrível sobre o povo de Deus já não tivesse sido suficiente, uma praga irrompeu sobre aqueles que se ofenderam com o acontecido e matou mais 14.700!

Na verdade, foi só pela intervenção de Moisés e Arão que a congregação inteira não foi destruída num piscar de olhos. Que calamidade de proporções inimagináveis tinha acontecido àqueles a quem Deus havia escolhido para serem Seus.

Vamos parar por um momento e avaliar este evento cuidadosamente. Isto não é simplesmente uma sabatina de história antiga. O Novo Testamento explica claramente que estas coisas foram escritas para o nosso benefício (1 Co 10:11).

Essa é na verdade uma mensagem para a Igreja de hoje, e Deus está ansioso para que a ouçamos. É uma palavra séria e corretiva que está em Seu coração. Que Ele tenha misericórdia de nós para que sejamos capazes de recebê-la como tal.

A VERDADEIRA AUTORIDADE ESPIRITUAL

Certamente a maioria dos leitores já percebeu que a verdadeira questão naquele dia não era um argumento ligado a opiniões ou personalidades. Não era uma análise de quem tinha as melhores ideias ou conselhos. Era uma questão de autoridade espiritual, uma discussão sobre quem Deus estava ungindo e usando para liderar o povo Dele de acordo com a Sua vontade.

Como é evidente que este assunto é muito importante e que Deus foi a níveis extremos para nos mostrar sua seriedade, é bom gastarmos um pouco de tempo aqui e examinarmos a necessidade de reconhecermos a genuína autoridade espiritual e como devemos corresponder a ela.

No primeiro capítulo deste livro, descobrimos que há duas variedades de autoridade no mundo hoje. Uma é a autoridade terrena, chamada autoridade “delegada”, que Deus instituiu para manter o mal deste mundo sob controle. Essa autoridade é exercida por aqueles que detêm títulos e posições em nossas sociedades, tais como policiais, oficiais do governo, juízes, etc.

O outro tipo de autoridade é o espiritual, que chamamos de autoridade “transmitida”. Aqueles que manifestam esse tipo de autoridade são apenas canais através dos quais a autoridade de Deus flui diretamente. São vasos rendidos, escolhidos por Deus para transmitirem Sua vontade. Quando tal autoridade é exercida, há uma revelação do próprio Deus. Não é a pessoa em si falando; é uma manifestação da vontade divina.

Como vimos anteriormente, Moisés era um canal de autoridade divina. Foi um homem usado por Deus para manifestar Seus próprios planos e propósitos de uma maneira assombrosa. Pouquíssimos homens na história do mundo manifestaram tamanha liderança e poder espirituais.

Sabemos que Moisés não estava instituindo suas próprias ideias e opiniões. Não estava liderando o povo de Deus de acordo com sua própria sabedoria e direção. Ele era apenas um instrumento sendo usado por Deus para transmitir Sua vontade ao Seu povo. Era um canal através do qual Deus falava clara e diretamente.

Talvez esta compreensão ajude a explicar a severidade da reação de Deus ao desafio de Corá e de seus companheiros. Eles pensavam que estavam em desacordo com um homem. Imaginavam que estavam tratando com algum tipo de autoridade delegada, terrena. Pelo contrário, descobriram que estavam se opondo ao próprio Deus. Embora a autoridade de Deus tenha se manifestado por meio de um ser humano, isso não muda o fato de que era realmente ELE!

Moisés tentou salvá-los de seu erro e explicou-lhes a situação, dizendo: “Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o Senhor” (Nm 16:11), mas eles se recusaram a ouvir. Consequentemente, sofreram o mais espantoso e veloz julgamento do próprio Deus. Sem imaginar, haviam desafiado diretamente a Ele e o Senhor estava pronto a responder.

O OUTRO LADO DA MOEDA

No primeiro capítulo, vimos que estabelecer autoridade delegada na igreja é um engano sério e as consequências vão longe. Agora, temos que entender que existe outro erro, igualmente sério, no outro extremo.

Alguns cristãos já têm consciência do tanto de autoridade humana que há na Igreja atual passando por “autoridade espiritual.” Esses já rejeitaram o “sistema de rei”, assim como tudo o que lhe diz respeito.

Todavia, como vimos desde o início deste livro, só rejeitar o falso não basta. Também precisamos ser capazes de reconhecer a autoridade espiritual genuína e nos submeter a ela. Todo mundo fazer o que é justo a seus próprios olhos não é bom o suficiente (Dt 12:8). Rejeitarmos a autoridade humana não é suficiente, se não nos submetermos à verdadeira. Quando agimos assim, nos colocamos exatamente na posição de Corá e de seu grupo, opondo-nos à própria autoridade de Deus manifesta através de um ser humano.

Hoje, Deus Se limita. Não está mandando cartas pelo correio para Seu povo. São raras as vezes em que fala dos céus audivelmente com todos. Mesmo que Se comunique com cada crente por meio do Seu Espírito, há tempos, Ele usa pessoas para manifestar Sua vontade. Quando Seu povo não está conseguindo ouvi-Lo diretamente, Ele usa outros indivíduos, alguns dos Seus instrumentos, para comunicar Sua Palavra.

O problema é que esses seres humanos que Deus usa não passam disso – são seres humanos. Quando Deus fala através deles, eles não criam asas, não desenvolvem auréolas, nem começam, de repente, a andar sem tocar o chão. Simplesmente permanecem como são.

No presente momento, parece que Deus tem pouquíssimos cristãos perfeitos para transmitir Sua vontade. Consequentemente, Ele é obrigado a usar alguns que são, digamos, menos que completamente santificados. Eles ainda precisam se alimentar de comida, dormir à noite e, infelizmente, de tempos em tempos, vão manifestar a parte ainda não transformada de sua natureza. Mesmo assim, quando falam segundo o Espírito de Deus, são, durante aquele período, uma manifestação de Sua autoridade. O próprio Deus fala através dos membros de Seu Corpo.

UM GRANDE ERRO

É um grande erro pensar que aqueles a quem Deus está usando para expressar Sua autoridade serão facilmente reconhecidos pelo homem natural. A maioria dos profetas não era muito impressionante para atrair vários seguidores. Mesmo um homem como Moisés, que estava acostumado a executar milagres espetaculares, continuamente tinha dificuldades com homens e mulheres que não conseguiam ver além da aparência superficial.

O próprio Senhor Jesus foi o maior exemplo de autoridade espiritual. Entretanto, muitas pessoas que O rodeavam e que não tinham visão espiritual eram incapazes de discernir Quem e O que Ele era. Sua própria família não O reconheceu. As pessoas de Sua cidade natal não puderam receber Seu ministério. Até mesmo os líderes da “Igreja” de Seu tempo, os que verdadeiramente deveriam tê-Lo abraçado, falharam em compreender a fonte de Sua autoridade (Mt 21:23). No final, os oficiais religiosos delegados se opuseram até a morte, a esta manifestação de autoridade, porque ela representava uma ameaça à sua posição e “lugar” (Jo 11:48).

Talvez nossas ideias preconcebidas, algumas vezes, nos façam errar. Talvez idealizamos demais muitas figuras bíblicas, a quem Deus usou no passado, e esperamos que nossos irmãos e irmãs sejam como imaginamos que aqueles tenham sido. Embora as Escrituras foquem principalmente os momentos em que foram ungidos pelo Espírito, não há dúvida de que essas figuras do passado tiveram momentos em que não foram perfeitas.

Conforme contemplamos estes homens e suas obras para Deus, é fácil supor que, se tivéssemos vivido naquela época, certamente os teríamos reconhecido como instrumentos do Altíssimo. Supomos que sua conduta, seu porte, ou qualquer coisa sobre eles certamente nos impressionaria e nunca teríamos rejeitado seu testemunho, como tantos o fizeram no passado. Com certeza, não estaríamos entre aqueles que “matavam os profetas”, quando traziam uma palavra difícil de ser ouvida (Mt 23:31).

Entretanto, é evidente que a maior parte do povo de Deus teve e ainda tem este problema. Nós falhamos quando não enxergamos além da humanidade dos vasos e não ouvimos a voz do Senhor.

Hoje, Deus também está falando por meio de homens. Quando o Senhor fala através deles, é a Sua voz que é ouvida, é a Sua autoridade que está sendo transmitida. Isto é uma coisa que todo crente precisa observar seriamente. É muito mais fácil ver com os olhos naturais e reagir como Corá reagiu, perdendo inteiramente a Fonte da mensagem que está sendo entregue.

Quantas vezes arrumamos uma desculpa por não darmos ouvidos a nosso irmão, só porque nossa compreensão ou visão não era como a dele? Com que frequência nos rebelamos contra Deus, porque Ele estava usando um instrumento que não reconhecíamos? A rebelião de nossa carne, hoje, não é diferente da dos exemplos do Velho Testamento. Além disso, quando nos rebelamos, sofremos as consequências.

A NECESSIDADE DE AUTORIDADE

Todos sabem que a humanidade tem sérias dificuldades em reconhecer a autoridade e submeter-se a ela. Esta deficiência é um resultado direto da queda do homem e da subversão da natureza humana. Quer gostemos de admitir ou não, uma rebelião profundamente assentada permanece no coração de cada um de nós.

A rebelião – desobediência ao mandamento de Deus – foi o que destruiu Adão e Eva. É essa mesma rebelião dentro de nossos corações que nos impede de ouvir Sua voz quando Ele fala conosco, individualmente ou por meio de outros. Recusar-se a ouvir a voz de Deus destrói muito mais do que alguns poucos cristãos em nosso mundo atual.

Um dos propósitos primários do Senhor em Sua obra dentro de nossos corações é subjugar a rebelião. Deus deseja estabelecer Seu reino, Sua autoridade em nossas vidas. Esta experiência libertadora se torna real em nós, conforme nos submetemos à autoridade divina. A expressão de Sua autoridade, a manifestação de Sua vontade para nossas vidas, vem até nós de maneiras diferentes. Contudo, não importa o modo como Sua autoridade é exibida; o importante é reconhecê-Lo como a Fonte.

Deus revela-Se a nós, em nosso espírito, não somente com palavras, mas também com inclinações sutis que indicam Seus desejos. Ele fala conosco através de Sua Palavra, quando meditamos sobre o que está escrito nela. Ele pode até mesmo usar várias circunstâncias para nos guiar, quando nos submetemos a Ele buscando entender Sua vontade manifesta nos acontecimentos ao nosso redor. Não estou dizendo que devemos ser governados apenas pelos eventos que acontecem em nossas vidas, e sim que devemos estar sensíveis ao que acontece em nosso ambiente, aprendendo a reconhecer a mão de Deus trabalhando em várias situações, para que não percamos nada que Ele queira nos mostrar.

Um outro modo importante de Deus nos mostrar Sua vontade é através de outros cristãos. Quando nascemos de novo, somos colocados por Jesus em Seu Corpo. Pelos desígnios sobrenaturais de Deus, Ele não nos fez completos e independentes.

Em vez disso, Seu padrão é que cada membro de Seu Corpo tenha determinados dons e funções específicas. Ele estabeleceu uma grande diversidade em Seu Corpo, a qual deseja que resulte em uma grande interdependência. Ninguém “tem tudo”, mas cada um deve desejar e receber a ministração de outros a fim de ser completo. Deste modo, cada um tem algo para ministrar e cada um, até certo ponto, depende dos outros naquilo que não possui.

Isto é real, especialmente quando o assunto é conhecer a vontade de Deus e ser sensível à Sua autoridade. Conforme cada indivíduo cresce na esfera de seu ministério designado, a autoridade de Deus começa a fluir através deles nesta área.

Quanto mais crescem em obediência ao Espírito, mais Deus pode usá-los para manifestar Sua vontade. Consequentemente, cada um começa a ter uma compreensão única da vontade de Deus. Assim, quando estamos abertos para ouvi-Lo falar conosco através de outros, Ele pode Se manifestar a nós de muitas maneiras extraordinárias.

Provavelmente, a maioria dos cristãos gosta de imaginar que é sensível à voz do Espírito Santo. Na prática, entretanto, a maioria de nós está longe deste ideal. Dentro do coração de quase todo crente, ainda há áreas de trevas e rebelião. Estas são as áreas não transformadas, nas quais Deus ainda está tentando trabalhar.

Como estamos frequentemente cegos para o fato de que tais áreas existem, é muito difícil para o Senhor falar diretamente conosco sobre estes problemas. Portanto, Ele, muitas vezes, tenta usar outros crentes para falar conosco. Ele dará a compreensão e a revelação necessária acerca de nossas próprias vidas – coisas que não seríamos capazes de receber sozinhos – a outros e os usará para nos ministrar.

Se, quando isso ocorre, podemos reconhecer a voz de Deus falando por meio de nossos irmãos e irmãs, seremos abençoados. Se nos recusamos a corresponder com a autoridade de Deus, deixaremos escapar aquilo que Ele havia planejado para nós.

Como vivemos e nos movemos no Corpo de Cristo, precisamos aprender a reconhecer uns aos outros e interagir espiritualmente. Para conseguirmos fazer isso, é essencial pararmos de conhecer uns aos outros “segundo a carne” (2 Co 5:16). Isso quer dizer que não devemos julgar os outros de acordo com o que percebemos pelos nossos sentidos físicos ou mentais. Nunca devemos focar seus traços peculiares de personalidade, suas falhas, forças ou fraquezas.

Pelo contrário, precisamos aprender a discernir o Espírito do Senhor nos outros e a reconhecer os dons e ministérios especiais que Ele lhes tem dado. Precisamos vê-los através dos olhos de Deus. Conforme reconhecemos os ministérios espirituais de nossos irmãos e irmãs, Deus pode começar a usá-los para Se revelar a nós. Sua autoridade irá fluir e nos tocar de uma maneira inesperada. Esta é uma experiência cristã essencial. É deste modo, através da cooperação de cada parte (Ef 4:16), que o Corpo é edificado como Jesus deseja.

É precisamente por esta razão que somos ensinados a nos submeter uns aos outros no temor de Deus (Ef 5:21). Quando nos relacionamos com outros crentes que estão seguindo o Senhor, não estamos apenas tocando seres humanos. A Bíblia afirma que a Igreja é a verdadeira morada do Espírito Santo!

Quando experimentamos relacionamentos espirituais vivos com outras pessoas, não é apenas com elas que estamos em contato. É com o próprio Deus. Este fato deveria causar um profundo impacto em nós. Esta consideração deveria nos frear um pouco e nos fazer reavaliar nossas atitudes e relacionamentos com outros cristãos. Como precisamos de uma grande dose do temor do Senhor introduzida em nossa experiência de igreja!

A EXPERIÊNCIA DO “CORPO”

Estivemos falando sobre nossas vidas individuais, mas estas mesmas verdades também se aplicam ao Corpo de Cristo como um todo. Deus não quer apenas nos guiar individualmente; Ele deseja muito que Sua Igreja se mova unida ao Seu comando. A Bíblia nos ensina que Jesus é o cabeça do Corpo, que é a Igreja (Cl 1:18). Lemos que Ele deve ter completa autoridade sobre todas as coisas. É Sua intenção controlar cada aspecto do seu movimento.

A Igreja deve comportar-se como uma mulher correspondendo com cada inclinação de Seu Cabeça celestial, assim como uma esposa corresponde com seu marido. Que coisa gloriosa quando a Igreja se move unida na direção em que Deus a está guiando! Como é lindo ver toda a Noiva de Cristo correspondendo com seu amado.

Esta é uma doutrina maravilhosa. Inspira meditação em nosso tempo particular com o Senhor. Contudo, como essa autoridade vai se manifestar? Suponho ser, na teoria, possível o Senhor mover Seu Corpo dando simultaneamente a cada membro a mesma instrução. Na prática, entretanto, parece que Deus usa líderes – homens e mulheres que Ele preparou – para receber e transmitir Sua vontade.

Essa sublime possibilidade de a Igreja mover-se como uma só, transforma em uma bênção genuína o momento em que ouvimos Sua voz através destes líderes e obedecemos. Assim, todos os Seus santos propósitos se cumprirão em nós, através de nós e ao nosso redor. A profetiza Débora teve esta visão, que a inspirou a dançar enquanto cantava: “Desde que os chefes se puseram à frente de Israel, (...) o povo se ofereceu voluntariamente, bendizei ao Senhor!” (Jz 5:2).

Aprendemos nas Escrituras que há, na Igreja, ministros que são usados por Deus especialmente para a liderança de todo o grupo. Os apóstolos, aqueles a quem Deus confiou a visão completa de Sua morada; os profetas, aqueles pelos quais Deus expressa os desejos de Seu coração para os outros; e, em geral, qualquer outro indivíduo qualificado a quem Ele possa usar a fim de manifestar Sua vontade ao Seu Corpo. Todos estes podiam ser categorizados como “líderes”. Muito frequentemente, são esses líderes que O Cabeça usa para apontar Suas direções e planos para os demais.

QUAL A NOSSA REAÇÃO?

No entanto, quando tais pessoas falam, qual é a nossa reação? (Por favor, lembre-se de que não estou me referindo, aqui, ao exercício de autoridade posicional ou humana na Igreja, mas à verdadeira autoridade espiritual transmitida). Somos capazes de discernir a voz de Deus? Ou nós, obstinadamente a recusamos? Somos submissos? Ou pensamos algo como: “Não concordo com aquilo! Não é algo de minha responsabilidade. Quem aquela pessoa pensa que é, tentando nos dizer o que fazer”? Ou até mesmo: “Eu não ouvi Deus falar nada daquilo comigo”. Na realidade, você ouviu Deus sobre “aquilo”. Ele falou com você pessoalmente – através de seu irmão.

Nem todos são chamados por Deus para serem líderes. Na verdade, a maioria não é. Consequentemente, é imprescindível que essa maioria se submeta à voz de Deus falando através de Seus líderes. Desta forma, aqueles que não têm este dom, encontrarão direção e satisfação.

Eles serão guiados na vontade do Pai simplesmente seguindo o Senhor em seus irmãos. Quando a expressão dessa autoridade é genuína, um tremendo poder e fertilidade são mostrados enquanto a Igreja se move de acordo com a direção do Cabeça. Deste modo, uma demonstração gloriosa do reino de Deus se manifestará na Terra.

Por outro lado, como Deus não está sempre falando diretamente com cada indivíduo, se nos recusamos a ouvi-Lo através de Seus instrumentos preparados, experimentamos uma grande perda de propósito e direção. Tal rebelião gera confusão. Pobreza espiritual e perda do poder sobrenatural são os resultados de quando se faz o “que é direito aos seus próprios olhos” (Dt 12:8).

A redução do fruto espiritual, seja individualmente ou no aumento de novos cristãos, se manifestará de forma rápida. Quando não estamos dispostos a ouvir aqueles através dos quais Deus está falando, perdemos Sua liderança e somos deixados apenas com nossas ideias e opiniões. Essas opiniões contrárias – aquelas que se levantam para se opor à direção de Deus – irão naturalmente competir pela aceitação dos crentes. Assim, sem a liderança divina, a igreja torna-se paralisada e dividida.

A reação adequada que deveríamos ter quando algum devoto alega ter uma palavra do Senhor para a igreja é examiná-la diante Dele humildemente e em oração. Quando o indivíduo que falou é conhecido como alguém através do qual Deus, com frequência, manifesta Sua vontade, nossa diligência deve aumentar, para termos certeza de que a nossa reação é a correta.

É bom lembrarmos aqui que, se não entendemos alguma coisa, não é motivo para rejeitá-la. Geralmente, não é fácil compreendermos a visão associada com os ministérios dos outros membros. Nossa responsabilidade é de levar essas coisas, séria e honestamente, a Deus em oração.

Se o que ouvimos não veio Dele, não precisamos – e, de fato, não devemos – obedecer. Entretanto, tal decisão deve ser tomada com a máxima humildade, temor diante de Deus e cautela, para ter certeza de que o nosso discernimento está correto. Lembre-se de que a tendência geral de nossa carne é se inclinar para o lado da rebelião.

Não há dúvida de que foi por esta razão que Paulo, o apóstolo, exortou seus leitores a terem o cuidado de reconhecer aqueles que eram trabalhadores espirituais e que estavam manifestando a real autoridade espiritual (1 Ts 5:12). Este deve ser o tema que está por trás da admoestação em 1 Coríntios 16:15,16, onde os crentes são persuadidos a reconhecer aqueles que Deus estava usando e a submeter-se a eles.

Frequentemente, no Novo Testamento, esse tema da submissão à autoridade espiritual é salientado. Por quê? Porque é tão fácil a carne esquecê-la. É a tendência natural da natureza caída, recusar a autoridade Divina manifesta através de pessoas que não têm nenhum tipo de “posição” ou título.

JULGAMENTO ESPIRITUAL

Atualmente, Deus está limitado a expressar Sua autoridade através de seres imperfeitos. Como consequência, é muito fácil a mente humana examinar a pessoa, em vez da fonte da mensagem. É perfeitamente natural, para alguns, agir como Datã e Abirão e ver os outros só com os olhos da carne.

Na ausência da visão espiritual, fazem seus julgamentos pelas aparências superficiais. Encontram alguma falha no vaso e perdem o conteúdo. Percebem alguma imperfeição real (ou imaginária) naquele através do qual Deus está liderando e, então, se liberam da obediência e da submissão.

Fazer isso é um engano trágico. Resultará em um julgamento espiritual daqueles que o cometem. Não porque se recusaram a ouvir a opinião de seus irmãos ou não levaram em conta as ideias de outra pessoa. É porque rejeitaram a voz do próprio Deus manifestando Sua vontade por meio de Seus servos.

Quando recusamos a voz de Deus falando através de outros, há um julgamento. Rebelião contra nosso Rei sempre traz consequências. No mínimo, resulta em algum nível de trevas espirituais. Também produzirá nas pessoas afetadas algum tipo de experiência de falta de direção, afastamento ou insatisfação, semelhante àquela dos que se recusaram a entrar na terra de Canaã.

Tais indivíduos tendem a não chegar a lugar algum, espiritualmente, e não executam nada para o Senhor. Não conseguem encontrar a paz do Senhor. Essas são as pessoas que estão sempre tendo problemas em se submeterem aos outros e, portanto, continuam a procurar uma direção pessoal e independente para suas vidas.

O que não conseguem imaginar é que só conseguirão se realizar quando estiverem em submissão à liderança que Deus já deu a outros. Como seus dons e funções no Corpo não são na área de liderança, será impossível encontrarem seu lugar sem permitir que a direção de Deus seja dada por meio de outros.

Deus nunca muda. Sua atitude para com a rebelião hoje é a mesma que tinha nos tempos do Velho Testamento. Embora os julgamentos que os rebeldes dos dias de Moisés experimentaram possam não ser repetidos da mesma forma, certamente servem como um exemplo terreno dos efeitos espirituais que a nossa própria rebelião produz.

Quando recusamos a opinião de Deus sobre áreas que necessitam de transformação, essas fraquezas permanecem intactas. Com o passar do tempo, os efeitos adversos destes problemas podem se tornar tão sérios que o “chão” espiritual se abrirá debaixo de nossos pés e nossos pecados nos engolirão completamente. Muitos cristãos têm tido sua caminhada com o Senhor completamente destruída pela rebelião contra a Sua autoridade. Alguns até perderam suas vidas fisicamente.

CONSIDERAÇÃO FINAL

Isso nos traz à consideração final. O que podemos fazer para evitar este sério erro? Como podemos estar certos de que estamos ouvindo a voz de Deus, quando Ele fala por meio de nossos irmãos?

A única resposta é que devemos estar verdadeiramente submissos a Deus. Em nossos corações, precisamos desejar ouvir Sua voz e obedecer.

Se realmente desejamos Sua vontade, podemos recebê-la, não importa qual instrumento Ele use para transmiti-la. Se verdadeiramente queremos obedecê-Lo e estabelecer um relacionamento de submissão a Ele, reconheceremos o Seu falar, mesmo pelo mais humilde, ou menos considerado membro do Corpo. Sua ovelha “ouvirá Sua voz” (Jo 10:27).

Isto não é algo que nos acontece num instante, mas é uma experiência que se intensifica conforme aumenta o nosso relacionamento com o Senhor. Nossa crescente submissão a Deus é a verdadeira evidência de maturidade espiritual.

Nossa disposição em ouvir Sua voz é um fator crucial. No presente momento, Jesus não está forçando ninguém a fazer a Sua vontade. Portanto, ouvir a calma voz de Deus e corresponder a ela requer um coração preparado para receber o que quer que seja que o Mestre esteja dizendo.

Nenhum acúmulo de ensino pode substituir este tipo de disposição. Pressionar os crentes rebeldes a se “submeterem” aos líderes não terá um efeito real em seus problemas. Insistir em que os insubordinados se movam em determinada direção, mesmo que seja a certa, não produz resultados espirituais.

Tudo o que isso pode gerar são hipócritas, cujos corações não estão bem com o Senhor. Não há outra alternativa para o cristão a não ser humilhar-se diante de Deus, recusando os instintos rebeldes que surgem dentro dele e submeter-se à mão poderosa de Deus (1 Pe 5:6).

A grande necessidade desta hora é permitir que Jesus estabeleça Seu reino em nossos corações. Um dia, em breve, Sua autoridade será estabelecida fisicamente no planeta. Entretanto, como uma preparação para este evento determinado, é necessário que Ele estabeleça Seu reino – Sua autoridade celestial – firmemente dentro de nós.

É essencial para aqueles que declaram amá-Lo, que também O obedeçam. Examineno-nos completamente à luz de Deus e de Sua Palavra e, então, coloquemos, sob Seu controle, todas as áreas de nossas vidas consideradas em rebelião. Vamos coroá-Lo rei de nossas vidas.

Final do Capítulo 2

Ler outros capitulos online:

Capítulo 1: DOIS TIPOS DE AUTORIDADE

Capítulo 2: A REBELIÃO DE CORÁ (Capítulo Atual)

Capítulo 3: A SARÇA ARDENTE

Capítulo 4: A FORMA DE UM SERVO

Capítulo 5: O CABEÇA DE CADA HOMEM

Capítulo 6: O CABEÇA DO CORPO