Ministério Grão De Trigo

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AUTORIDADE ESPIRITUAL GENUÍNA

A SARÇA ARDENTE

Capítulo 3

Autoridade Espiritual Genuina, livro por David W. Dyer

Publicacao Grao de Trigo

Escrito por David W. Dyer

ÍNDICE

Capítulo 1: DOIS TIPOS DE AUTORIDADE

Capítulo 2: A REBELIÃO DE CORÁ

Capítulo 3: A SARÇA ARDENTE (Capítulo Atual)

Capítulo 4: A FORMA DE UM SERVO

Capítulo 5: O CABEÇA DE CADA HOMEM

Capítulo 6: O CABEÇA DO CORPO





Capítulo 3: A SARÇA ARDENTE


Nosso Deus é infinito e eterno. Ele conhece todo o futuro tão bem quanto o passado. Ele não compreende apenas o começo e o final de tudo, a Bíblia nos ensina que Ele “é” o princípio e o fim. A existência de Deus vai além e está acima do que chamamos de “tempo”. O tempo é somente uma parte de Sua criação. Pelo fato de nós sermos seres finitos e, portanto, limitados pelo tempo, este conceito de que há um Ser Eterno, um Ser que existe fora do tempo, não penetra em nós com facilidade. Mesmo assim, é a mais pura verdade. Deus simplesmente “é”. E Sua existência transcende ambos, o tempo e o espaço.

Como consequência disso, nada do que Deus faz é acidental. Seu trabalho não foi e nem está sendo feito por um impulso momentâneo, conforme alguma ideia súbita que surge em Sua mente. Pelo contrário, tudo o que Deus faz já foi planejado “muito tempo atrás” do ponto de vista humano. Todas as Suas atividades são voltadas para o cumprimento dos objetivos que Ele determinou desde o princípio. Nada que acontece, seja para impedir Seus propósitos ou para ajudá-los, é uma surpresa para Ele. Cada circunstância foi previamente conhecida e Deus, em Sua infinita sabedoria, planejou um modo de realizar a Sua vontade.

Com isso em mente, vamos olhar juntos para a vida de um homem de Deus muito especial. Sem dúvida, bem antes de ter nascido, Moisés foi escolhido por Deus como um instrumento para executar um grande e poderoso trabalho em Seu nome. Ele não foi selecionado precipitadamente, apenas porque aconteceu de estar no lugar certo na hora certa, mas porque ele fazia parte de um desígnio eterno e insondável. O Todo-Poderoso não apenas conheceu e escolheu Moisés previamente, como também planejou um modo de prepará-lo para sua futura missão.

Pouco depois de seu nascimento (creio que todos vocês já leram a história), Moisés foi retirado de seu esconderijo no rio e levado direto para a casa do faraó. Lá, recebeu educação e treinamento sobre os usos e costumes da corte (At 7:22). Tudo isso fazia parte dos desígnios de Deus para preparar Moisés para o trabalho que estava por vir.

Suponho que seja teoricamente possível algum pastor, que passou sua vida inteira no deserto, entrar na presença do faraó e tratar com ele da maneira como Moisés o fez. No entanto, Moisés não era apenas um pastor comum. Ele era um homem preparado por Deus para uma obra extraordinária. Em preparação para seu chamado, nosso Deus providenciou uma educação bastante incomum. Consequentemente, quando a hora chegou, ele estava qualificado para se comportar com segurança na corte de faraó e cumprir a tarefa do Altíssimo.

Moisés não foi apenas preparado por Deus, mas também foi chamado por Ele para o trabalho para o qual fora predestinado. Não sabemos, exatamente, quando Moisés começou a entender esse chamado, mas está claro que, por volta dos 40 anos, já sabia algo a respeito. É provável que ainda não suspeitasse da totalidade do plano de Deus, mas parecia compreender que tinha sido escolhido pelo Senhor para libertar Seu povo.

Em Atos 7:25 lemos: “Ora, Moisés cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus os queria salvar por intermédio dele.” É evidente que, porque ele estava ciente desse fato, erroneamente presumiu que eles também o compreenderiam. Eles, porém, não entenderam. Ainda não era o tempo de Deus e todo o Seu trabalho de preparação ainda não havia acabado.

Já que a compreensão de Moisés do plano de Deus estava incompleta, seu comportamento refletia essa deficiência. Ele deve ter olhado a situação com olhos naturais. Ver seus próprios irmãos sendo tão maltratados e na escravidão, provavelmente incitou nele sentimentos muito fervorosos. Sua opressão contínua, severa, deve ter causado um grande impacto nele. Deve ter sido consumido pela ideia de realizar o trabalho para o qual Deus lhe tinha chamado.

A posição de poder e autoridade a que havia chegado, sua própria força e sabedoria, as habilidades natas de liderança que possuía – todas essas coisas o convenceram de que poderia e deveria começar a dar alguns passos para realizar o chamado de Deus. Assim, quando a oportunidade se apresentou, ele a aproveitou, matando o egípcio e escondendo-o na areia.

Que poderoso livramento ele executou! Um opressor morto e um israelita temporariamente liberto. Com toda a sua preparação e talentos naturais, isso era tudo o que podia fazer. Sem dúvida, o desejo de ver o povo de Deus livre ardia dentro de Moisés. Ele estava dando o melhor de si para executar o trabalho para o qual havia sido chamado.

Contudo, os resultados foram tão lastimáveis... O povo de Deus não foi liberto, eles não compreenderam o que Moisés estava tentando fazer e ele próprio teve de proteger sua vida, fugindo para o deserto. Mesmo tendo sido chamado por Deus para realizar esse trabalho, o que pôde produzir com sua própria energia foi um fracasso.

Os próximos 40 anos da vida de Moisés foram gastos tomando conta de ovelhas. Embora ele não soubesse, este também foi um período de preparação de Deus. Depois de tanto tempo, ele já havia renunciado à ideia de executar qualquer tipo de libertação. O desejo inflamado, que tinha antes, de libertar seu próprio povo era, agora, uma memória esmaecida. Moisés tornara-se mais velho e mais sábio. A força natural, que outrora emanava de seu ser, tinha se enfraquecido e os dons e talentos que adquirira no Egito não eram usados há anos.

Isso também fazia parte da obra de Deus. Foi a quebra do que era natural em Moisés – a “queda ao pó” de suas forças e habilidades humanas – para que Deus pudesse ser o Único a Se manifestar. Às vistas de Moisés, estava tudo acabado; mas aos olhos de Deus, era apenas o começo.

UM TIPO DE FOGO DIFERENTE

Quando Moisés tinha cerca de 80 anos, Deus apareceu a ele de uma maneira especial. Enquanto seguia com suas ovelhas, notou uma sarça que estava queimando; mas havia algo estranho com o fogo daquela sarça. Embora queimasse intensamente, a sarça não se consumia. Não havia nada natural naquele fogo. Não estava usando os elementos terrestres da sarça. É totalmente possível que as folhas da sarça tenham permanecido verdes. Esse fogo era abastecido por algo sobrenatural. Era o fogo de Deus!

Ao se voltar para ver essa maravilha, uma voz falou com Moisés. A voz firmemente o informou que o fogo celestial tinha tornado aquele lugar santo e que não havia espaço para espectadores. Como reação, Moisés escondeu sua face. O temor a Deus estava sobre ele e também não era mais capaz, ou desejoso, de agir de um modo natural, humano. Moisés se tornara “(...) mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm 12:3).

Esta foi a maneira pela qual o Altíssimo Deus finalizou Seu chamado para a vida de Moisés – pela sarça ardente. Através dela, recebeu a mais importante revelação. Na verdade, ele deveria queimar por Deus, porém não pela sua própria força. Deveria ter um grande zelo pela libertação do povo de Deus, embora fosse um zelo que não vinha dele mesmo. Iria executar uma grande libertação, mas, não era aquela que havia planejado. Deus iria usá-lo de um modo como nenhum outro ser humano havia sido usado antes; mas, com certeza, não seria com seu próprio fervor ou zelo, mas com o fogo celestial trabalhando através dele.

UM PRÉ-REQUISITO NECESSÁRIO

Aqui está uma verdade essencial sobre a autoridade espiritual genuína. Antes que alguém possa ser grandemente usado por Deus para transmitir Sua autoridade é preciso ser “quebrado”. É preciso experimentar primeiro uma obra sobrenatural em seu ser para que não seja mais “inteiro”. É preciso ser “quebrado” por Deus.

Quando esse processo termina, a pessoa não é mais capaz de usar seus talentos naturais e habilidades para servir a Deus. Ela não fica mais planejando a “libertação” de Seu povo. A sua própria capacidade de liderança falha e, então, a menos que Alguém mais poderoso Se mova, essa pessoa não vai mover absolutamente nada.

Uma vez que um filho de Deus alcança essa posição, ele está pronto para uma grande obra. É a partir deste ponto que pode ser realmente usado por Deus. Quando sua confiança em seus dons pessoais, personalidade, conhecimento e habilidades se acaba total e completamente, então, e só então, é que ele está qualificado para ser usado de uma maneira poderosa para manifestar a verdadeira autoridade espiritual.

Não foi apenas Moisés que teve de se submeter a essa experiência. Todos aqueles que têm sido usados por Deus também têm conhecido Sua mão poderosa em suas vidas. Pare por um momento e considere cuidadosamente a história de algumas outras figuras bíblicas.

Leia a história de José e veja quanto sofrimento ele teve de suportar antes de estar pronto para a grande liderança. Lembre-se de Abraão, que recebeu tremendas promessas. Como não se realizavam, ele e Sara planejaram cumprir a Palavra de Deus por conta própria. O desastre dessa decisão permanece conosco até hoje. No entanto, após muitos anos de tratamento de Deus, quando ele e sua esposa já haviam esgotado sua própria capacidade, viram a revelação do poder de Deus.

Reveja a história de Jacó, o “usurpador”, o maquinador, aquele que estava sempre planejando um modo de levar a melhor, até ele lutar com o anjo e ser tocado em sua coxa. A parte mais forte de seu corpo foi deslocada de forma sobrenatural e Jacó nunca mais foi o mesmo. Depois disso, não pôde mais caminhar como antes. Algo havia mudado permanentemente. Foi então que seu nome foi mudado de Jacó, o “usurpador”, para Israel, o “príncipe de Deus”.

Até mesmo o rei Davi não se tornou poderoso repentinamente. Foi preparado por Deus durante anos, enquanto apascentava as ovelhas e, mais tarde, durante suas experiências com Saul. Posteriormente, foi muito útil para Deus para subjugar Seus inimigos. Imaginem a tristeza e o quebrantamento que Noemi e Rute tiveram de suportar antes de verem a vitória. Estes e muitos outros tiveram de passar pela experiência da “sarça ardente”. Era necessário que fossem transformados de homens e mulheres naturais em seres espirituais a ponto de terem sua própria força subjugada por Deus.

A EXPERIÊNCIA NA NOVA ALIANÇA

Isto é real não apenas no Velho Testamento, mas também na Nova Aliança. Aliás, acredito que essa experiência pode até ser mais importante para aqueles que nasceram de novo do que para os homens de Deus no passado. Todas as coisas que foram escritas a seu respeito foram, na verdade, escritas por nossa causa, para que pudéssemos receber instrução divina através delas (Rm 15:4).

Talvez Paulo, o apóstolo, nos proporcione o melhor exemplo de tais tratamentos divinos no Novo Testamento. Antes de sua conversão, ele era, sem dúvida, extremamente confiante em si mesmo. Era o “fariseu dos fariseus”, um homem judeu, culto e bem-educado, “extremamente zeloso” das coisas de Deus. Em seus próprios esforços calorosos para servir a Jeová, até passou a perseguir a Igreja.

Foi então que, um dia, teve o encontro com a Luz na estrada. Aquela experiência o deixou para baixo, literalmente no chão. Logo após o ocorrido, nós encontramos Paulo nas sinagogas debatendo com os líderes religiosos e pregando as boas-novas que havia recebido. Contudo, aquilo era apenas o começo. Deus queria muito mais daquele homem do que prevalecer em alguns argumentos sobre religião. Ele tinha em mente um ministério muito maior.

Logo após sua conversão, Paulo quase desaparece dos registros das Escrituras. Após sua experiência inicial com Cristo, nada mais é ouvido a seu respeito, até que Barnabé vai a Tarso procurar por ele. Por onde andava? O que estava fazendo? Evidentemente não estava fazendo algo de grande importância, mas Deus estava fazendo algo nele.

Durante aquele período, Paulo passou alguns anos na Arábia (Gl 1:17), talvez no deserto. Não se sabe ao certo quanto tempo esteve por lá ou que experiências teve. Apenas sabemos que, quando ressurge no cenário da Igreja, não é mais o mesmo homem. Não está mais cheio do seu próprio zelo e energia; é alguém útil para a manifestação de Deus ao Seu povo. Agora Paulo diz coisas como: “(...) para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos” (2 Co 1:9 ) e “(...) porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Co 12:10).

O forte “Saulo” tornou-se Paulo e isso definiu o caráter de seu ministério dali em diante. Ele retrata seu posicionamento em uma congregação, dizendo: “(...) foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós” (1 Co 2:3). Não que o ministério de Paulo fosse fraco, pois certamente não era, mas, ele se sentia fraco. Não confiava mais em suas próprias forças e zelo para cumprir o desejo de Deus. O vigor de sua própria vida havia sido destruído. Ele sabia que aquilo que era e o que tinha como ser humano só seria útil quando fosse movido pela força de Deus.

Assim, aquele homem, outrora autossuficiente, cuja suficiência fora substituída pela de Alguém maior, tornou-se talvez o cristão mais produtivo de todos os tempos. Tornou-se um instrumento de poder, revelação e autoridade divina. Ele não refletiu a Pessoa de Jesus apenas em seus dias; ainda hoje, seu ministério dá frutos através das páginas do Novo Testamento.

UM PROBLEMA NA IGREJA

Hoje, na Igreja cristã há um problema muito comum. Homens, mulheres e jovens nascem de novo, recebem dons, são chamados por Deus e ungidos para a obra do ministério. Seus dons são reais, seu chamado é genuíno, mas o trabalho de preparação de Deus em suas vidas não está completo.

Por razões que examinaremos em breve, irmãos tão talentosos são frequentemente colocados em posições de autoridade para as quais eles não estão preparados. Por não serem qualificados pela obra do Espírito Santo, não têm alternativa, senão agir como homens naturais.

Tal autoridade terrestre introduzida na igreja interrompe o fluir da autoridade divina – que é essencial para o funcionamento adequado do Corpo – e macula o trabalho de Deus. Ela traz um elemento natural, humano, que não pode produzir algo espiritual e se torna apenas um estorvo.

Por favor, não entendam mal. Jovens crentes podem exibir algum grau de autoridade espiritual. Enquanto operam na esfera do ministério que o Espírito Santo abre para eles, não há problema. Claro que, no início, essa esfera é pequena e cresce conforme aumentam suas habilidades e sensibilidade para com Deus. Entretanto, conforme começam a trabalhar no Corpo de Cristo, é comum chegarem a uma posição em que começam a exercer uma autoridade que vai além de sua capacidade e, consequentemente, caem no laço do diabo (1 Tm 3:7).

Este problema parece desenrolar-se de duas maneiras. O primeiro enredo é algo assim: Os novos convertidos são, comumente, muito zelosos e têm uma energia enorme para gastar nas coisas de Deus. Os outros irmãos não podem deixar de notar os dons, a unção e a habilidade de liderança operando nestas pessoas.

Como temos visto desde os capítulos anteriores, os homens naturais, frequentemente, desejam uma autoridade terrena, um “rei”. Eles gostam de ter alguém para lutar as batalhas, cuidar dos problemas, descobrir a direção de Deus e outras coisas mais.

Então, quando veem aqueles que estão cheios de energia, aqueles que Deus está usando e que têm dons espirituais verdadeiros, normalmente os empurram para a frente da igreja, tomando-os e fazendo deles líderes de louvor, pastores, diáconos e assim por diante. Com frequência, os elevam acima de sua capacidade espiritual e os colocam em “posições” de autoridade na igreja, sobre as quais falamos anteriormente.

Claro que estes recém-convertidos não têm sabedoria e maturidade para evitar esta cilada. Acreditam, sinceramente, que aqueles que os estão impelindo devem saber o que é certo. Já que estão famintos, como Moisés estava, para servir a Deus e fazer Sua vontade, permitem que os homens os coloquem nessas posições.

Entretanto, isto é um sério engano. É impossível estes indivíduos agirem de forma adequada, de acordo com o Espírito. Eles simplesmente não têm a preparação divina. Sua sensibilidade espiritual a Deus e sua desconfiança de sua própria capacidade ainda não foram estabelecidas por completo. Isso, então, os leva a não terem outra opção, a não ser agirem naturalmente, confiando em sua própria capacidade. É este tipo de injeção de autoridade que tão rapidamente danifica a igreja. Se tais indivíduos têm uma personalidade forte e muita energia, podem demonstrar sucesso no que estão fazendo, pelo menos por enquanto. Os outros podem aplaudir suas realizações. A influência deles pode se expandir e o “ministério” crescer muito rapidamente. Em pouco tempo, estarão liderando alguma grande organização religiosa e atraindo novos membros.

Todavia, nosso Deus entende profundamente a verdadeira substância espiritual de todas as nossas obras. Qualquer coisa que tenha sido feita por nosso próprio esforço e energia é rejeitada por Ele. Tais coisas terrenas serão queimadas no trono de Julgamento de Cristo. Madeira, feno e palha não permanecerão naquele dia (1 Co 3:12).

Também é possível que Deus tenha misericórdia destes jovens recrutas e permita que seu trabalho falhe e pereça. Ele faz isso com muito amor, para que não se tornem enredados por completo em seu erro. Ele anseia por vê-los quebrantados em Sua presença. Contudo, muitos desses indivíduos não entendem este trabalhar, nem percebem a mão de Deus em suas derrotas. Não entendem como Deus poderia “abandoná-los” quando estavam trabalhando tanto para Ele.

Consequentemente, tornam-se amargos e desiludidos. Sua fé naufraga. Para muitos desses crentes, o que eles veem outros cristãos fazendo ao seu redor é sua única direção. De acordo com sua percepção, eles não tiveram sucesso e frequentemente acreditam que Deus os abandonou. Para alguns, parece difícil mudar este conceito. Eles chegam a negar servir a Deus de vez, ou mudam e usam métodos cada vez mais humanos, a fim de conseguirem os resultados que aprenderam a esperar.

A segunda razão pela qual os jovens crentes muitas vezes chegam a posições de autoridade natural (uma razão que, em geral, opera em conjunto com a mencionada anteriormente) é que eles mesmos as procuram. Estas são pessoas normalmente fortes e, mesmo antes de sua conversão, costumavam confiar em suas próprias habilidades. Então, quando vêm para a igreja, Deus ainda não teve tempo de reverter esta situação. Como são bem-dotados, ambiciosos e, até mesmo, chamados por Deus, esses homens e mulheres naturalmente chegam ao topo em qualquer situação.

A menos que haja crentes mais velhos e maduros que tenham experimentado a mão esmagadora de Deus em suas vidas para aconselhar e guiar tais jovens, a tomada da autoridade por suas mãos é quase inevitável. Estes cristãos, pela força natural, elevam-se acima de sua esfera espiritual e tornam-se líderes. Isto não apenas se torna um sério obstáculo na igreja como também, com o passar do tempo, provocará um grave impacto negativo contra a pessoa que foi, assim, elevada.

Alguns homens gostam de exercer autoridade sobre outros. É um verdadeiro impulso egocêntrico pensar que podem controlar um grande número de pessoas. Depois que se convertem e se enchem do Espírito Santo, começam a ver Deus usá-los de muitos modos, talvez até com milagres.

De repente, torna-se muito fácil impressionar as pessoas e atrair seguidores. Seus dons espirituais só servem para “decorar” seus talentos e habilidades humanas. A menos que este tipo de personalidade natural seja humilhada e subjugada por Deus, estas pessoas irão automaticamente agarrar o máximo de poder que puderem.

A Igreja, hoje, está cheia de tais líderes. Alguns se esforçam para ver quantas pessoas podem influenciar. Fazem alarde para quem quiser ouvir sobre quantas “igrejas” estão “debaixo” de seu ministério, sobre quantos “grupos familiares” eles têm ou quantos novos membros conseguiram recrutar.

Muitas vezes, tais indivíduos encontram um modo de tirar de suas igrejas outras pessoas que estão sendo levantadas por Deus, ou qualquer outro que pareça ser uma ameaça à sua autoridade.

Como sua autoridade tem uma base humana, ela só pode ser defendida por meios humanos. Contendas, orgulho, ciúme e muitas outras coisas são evidenciadas nestas situações. Esse tipo de “autoridade” é repugnante para todo aquele que tem olhos verdadeiramente espirituais. Esses crentes caíram no laço do diabo.

O exercício de autoridade na Igreja de Cristo é algo muito profundo. Não é uma coisa que podemos tratar de leve. Não estamos lidando, aqui, com uma organização ou negócio terrestre. Só porque alguém tem “capacidade de liderar” no mundo, isso não o qualifica, em absoluto, para fazer qualquer coisa na igreja.

Como precisamos examinar este assunto com temor de Deus! Como nós, homens, precisamos nos arrepender de substituir a autoridade de Deus pela nossa! O que supõe-se que devamos construir é algo eterno, algo de substância celestial. Precisamos tomar esta responsabilidade muito seriamente e focar o exercício de autoridade com tremor, receio de corromper a obra de Cristo. O mau uso e a má interpretação da autoridade de Deus são algumas das razões primárias pela qual a Igreja, como um todo, está em um nível de espiritualidade tão baixo e ainda não tenha cumprido sua missão para com o este mundo.

OS SERVOS NECESSITAM DE PREPARAÇÃO

Durante o ministério de Jesus, Ele ensinou muitas coisas aos seus discípulos. Um de seus métodos de ensino era dar-lhes “ilustrações”, ou exemplos. Numa certa ocasião, os doze notaram que as pessoas a quem Jesus ministrava estavam ficando famintas. O dia já estava no fim e elas não tinham nada para comer.

Jesus aproveitou essa oportunidade para lhes mostrar algo profundo. Sua resposta ao problema foi dizer aos discípulos que eles mesmos deveriam solucionar aquele problema. “Mas”, retrucaram, “temos apenas um pouco de comida (cinco pães e dois peixes). O que podemos fazer com isso?”

Jesus estava pedindo a eles para realizarem uma tarefa enorme e eles conseguiram reconhecer que, pela sua capacidade natural, aquilo seria impossível. Entretanto, Ele tomou em Suas mãos o que tinham e o partiu. “KREC, KREC” e migalhas por todo lado. Posso imaginar o assombro deles. Quando Jesus acabou, havia mais do que o suficiente para todo mundo.

É assim, então, que Deus age com os Seus seguidores. Sua instrução para nós é que O ministremos às multidões, mas o que temos, como homens naturais, não é suficiente para o trabalho. Mesmo com os nossos dons divinos, só seremos capazes de ministrar algumas poucas pessoas no começo. Nossos poucos pães e peixes nunca poderão resolver as maiores necessidades até que sejam partidos pelas mãos do Salvador.

Deus precisa realizar um trabalho de quebrantamento em nossas vidas. Para sermos poderosamente usados, instrumentos para a autoridade sobrenatural, não há outro modo. Nossa força natural deve ser destruída e nossa essência fraturada, sem possibilidade de reparo. Então, e só então, estamos qualificados para sermos usados por Deus de maneira ampla.

Inicialmente, Deus pode trabalhar para nos quebrar. Talvez, após alguns arranhões e um tratamento doloroso, sintamos que fomos quebrados e nunca mais ficaremos inteiros, de novo. Contudo, Ele não para por aí. Em seguida, se estivermos dispostos, Ele continuará a nos quebrar, até ficar tudo em pequenos pedaços, ao ponto de nunca mais serem emendados outra vez.

Então, se ainda continuarmos submissos a Ele, é provável que nosso Mestre ajuntará esses pedaços em Suas mãos de amor e os porá em Sua moenda. Ali, Ele nos moerá, transformando-nos em farinha.

Pode ser que, após o primeiro processo na moenda, a farinha ainda fique um pouco grossa. Então, Ele talvez tenha que moê-la mais uma... duas ou três vezes. Quando nossa farinha estiver totalmente fina, tão suave quanto a seda, Ele derramará azeite sobre o pó e os misturará. Somente a partir daí, estaremos prontos para sermos oferecidos como uma oferta santa sobre o altar (Lv 2:1). Os homens e mulheres que forem preparados assim poderão ser usados por Deus de uma maneira muito ampla, para expressá-Lo para o mundo.

Isso parece severo? Parece difícil? E é! Nenhum dos verdadeiros servos do Senhor teve “um tempo fácil”. Morrer nunca é agradável, mas é o único caminho. A eliminação de nossa força natural é a única possibilidade. Se não formos profundamente tocados desta maneira, mesmo quando estivermos dando o nosso melhor para fazermos a coisa certa, nossa carne se expressará. É comum estarmos completamente inconscientes quando isso acontece. Nossa imaturidade espiritual nos impede de ver a impressão que nossas atitudes causam nos outros e no mundo espiritual.

Muitas vezes, não temos noção da intensidade de nossa própria força ou da maldade que espreita dentro de nós. Como consequência, não temos a menor ideia do tanto que precisamos ser quebrados pela mão de Deus. No entanto, nosso Senhor nos conhece intimamente e vê com clareza as áreas de nossas vidas que necessitam de transformação. Por isso, a existência do “ego” precisa morrer. Enquanto permanecer vivo, sempre se manifestará e maculará a obra de Deus.

Todos aqueles que serão grandemente usados por Deus passarão por tempos obscuros, difíceis e dolorosos. Não é que Jesus esteja irado conosco, ou porque temos, de algum modo, pecado contra Ele. Não, estas experiências são para aqueles que são especialmente amados por Ele. São tempos de provações para aqueles que são escolhidos para serem instrumentos do Seu poder e autoridade.

Não há dúvida de que tais indivíduos encontrarão momentos e situações em que julgarão não poder continuar. Talvez acreditem que não serão capazes de suportar por nem mais um minuto a dificuldade e a dor que estarão experimentando. Talvez não encontrem saída.

Contudo, Deus lhes dará graça suficiente para sobreviverem. Durante cada momento de escuridão e tumulto, Ele estará lá para ajudá-los. Enquanto estiverem esperando o Senhor libertá-los de sua situação, Jesus estará libertando-os “através” da situação. Na realidade, é provável que Ele permita estas circunstâncias para levá-los a um lugar onde possa completar Sua obra transformadora neles.

Não vamos pensar, quando vierem essas ocasiões, que Deus nos abandonou. Muito pelo contrário! Essas experiências são, de fato, manifestações do amor de Deus. Ele está preparando Seus servos para que sejam infinitamente úteis para Ele. Não tem outro jeito. Se a vida natural persistir, sempre haverá impedimentos e problemas.

Paulo, o apóstolo, parece estar descrevendo um destes períodos de provação quando escreve: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a Sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal” (2 Co 4:8-11). O fato de que ele próprio tenha experimentado tais coisas deveria ser uma fonte de grande consolo para nós.

Queridos amigos, por favor, tenham em mente que este não é um trabalho que vocês mesmos possam fazer. A quebra da força natural não é algo que o homem natural possa fazer. Só Deus pode fazer esse trabalho em uma pessoa e Ele o faz à Sua maneira e a Seu tempo. Tudo o que podemos fazer é nos render a Ele completamente, não retendo coisa alguma e dando-Lhe permissão para fazer o que Ele quiser em nossas vidas.

A experiência do quebrantamento leva tempo. Não há nada que substitua os anos de preparação nas mãos do Oleiro. Entretanto, o período não é o mesmo para todos. Com alguns, Deus pode fazer esse trabalho gradualmente, ao longo de anos e, do mesmo modo o exercício de autoridade divina também expandirá vagarosamente. Com outros, o Mestre pode trazer um período específico de experiência, no qual Ele faz um trabalho dramático de quebra.

Quando isso acontece, todos ao seu redor notarão uma tremenda e rápida mudança de caráter e de personalidade. Provavelmente, logo após isso, Deus começará a usá-lo de um modo muito mais poderoso. Contudo, embora Ele opere em nossas vidas, é Ele quem escolhe e faz. Nossa parte é simplesmente obedecer a Ele.

Estas, portanto, são as qualificações para transmitir a autoridade sobrenatural: ser chamado, ungido e preparado por Deus. Nenhum destes itens pode ser desprezado. Não há dúvida de que Deus deseja usar os dons que nos deu e, também, de alguma forma, as habilidades naturais com as quais nos equipou. Contudo, nenhuma destas coisas será muito útil até que nossas forças sejam quebradas e Ele tenha o controle completo. Enquanto ainda estamos “inteiros”, não poderemos ser tão usados por Deus.

Final do Capítulo 3

Ler outros capitulos online:

Capítulo 1: DOIS TIPOS DE AUTORIDADE

Capítulo 2: A REBELIÃO DE CORÁ

Capítulo 3: A SARÇA ARDENTE (Capítulo Atual)

Capítulo 4: A FORMA DE UM SERVO

Capítulo 5: O CABEÇA DE CADA HOMEM

Capítulo 6: O CABEÇA DO CORPO