Ministério Grão De Trigo

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AUTORIDADE ESPIRITUAL GENUÍNA

A FORMA DE UM SERVO

Capítulo 4

Autoridade Espiritual Genuina, livro por David W. Dyer

Publicacao Grao de Trigo

Escrito por David W. Dyer

ÍNDICE

Capítulo 1: DOIS TIPOS DE AUTORIDADE

Capítulo 2: A REBELIÃO DE CORÁ

Capítulo 3: A SARÇA ARDENTE

Capítulo 4: A FORMA DE UM SERVO (Capítulo Atual)

Capítulo 5: O CABEÇA DE CADA HOMEM

Capítulo 6: O CABEÇA DO CORPO





Capítulo 4: A FORMA DE UM SERVO


Neste livro, temos discutido sobre a autoridade espiritual. Juntos, examinamos os dois tipos de autoridade encontrados na Terra, isto é, a autoridade hierárquica – “delegada” – e a autoridade espiritual – “transmitida”. Investigamos a necessidade de sermos capazes de reconhecer a autoridade espiritual genuína e distinguí-la da variedade terrena. Também vimos como Deus prepara Seus servos e, então, se manifesta à Igreja por meio deles.

Com tudo isso em mente, somos levados a uma questão particularmente importante a respeito da autoridade. Quais são os motivos de uma pessoa para exercer a autoridade? Quando alguém está agindo ou falando com autoridade, inevitavelmente, ele tem um propósito por trás do que está fazendo. Além disso, esses motivos revelam, com clareza, a fonte de sua autoridade.

Por exemplo, quando os impulsos vêm de Deus, a autoridade é Dele. Ele é quem está Se revelando. Por outro lado, quando um desejo de dominar, de aparecer, de ser reconhecido, etc., surge do interior do indivíduo, com certeza, há ambições egoístas. Consequentemente, compreender as motivações ocultas na autoridade que está sendo demonstrada ou por nós mesmos, ou por outros, pode ser um instrumento valioso para entender a fonte de tal autoridade.

Lembremo-nos de que os pensamentos e as intenções do coração humano (especialmente o nosso próprio) são, frequentemente, difíceis de serem percebidos. Portanto há uma grande necessidade de abrirmos nossos corações com sinceridade para a luz do Espírito Santo e de nos humilharmos diante Dele enquanto examinamos, juntos, as Escrituras.

Já que nosso Senhor Jesus Cristo foi o exemplo supremo da verdadeira autoridade espiritual, vamos dar uma olhada em Sua vida e ensinamento. Quando Jesus andou pela Terra com Seus discípulos, Ele gastou uma grande parte do Seu tempo ensinando-os. Seus métodos de ensino eram variados e únicos. Era comum instruí-los não só por meio de palavras, mas também de ilustrações.

Foi pouco antes da culminação de Seu trabalho na Terra, enquanto estavam reunidos para o que chamamos de “a última ceia”, que Jesus escolheu fazer uma poderosa demonstração de autoridade a eles. O momento escolhido para este ato, o verdadeiro clímax de Seu ministério, é a evidência da tremenda importância que Ele atribuiu ao assunto.

Enquanto comiam juntos, Jesus levantou-se da mesa, tirou Sua roupa de cima e cingiu-se com uma toalha. Ele se vestiu como um servo. Então, prosseguiu executando a função do escravo de menor valor: lavou os pés dos discípulos. Ali estava o Deus encarnado, o Criador do Universo, Aquele que tinha o direito de exercer toda a autoridade, agindo como um escravo particular.

Sem dúvida, Ele estava tentando transmitir uma mensagem muito importante. Estava apontando, da forma mais enfática possível, a verdadeira atitude e posição daqueles que exercem autoridade espiritual e liderança. Enquanto tomava esta atitude, Ele disse: “Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque Eu o sou. Ora, se Eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também.” (Jo 13:13-15). Ele, então, conclui Sua mensagem dizendo: “Se sabeis estas coisas, bem aventurados sois se as praticardes” (vs 17).

Isso, portanto, nos revela a motivação, na Bíblia, da verdadeira autoridade espiritual. Aqueles que são usados por Deus para transmitir Sua autoridade devem ser servos. Sua atitude e disposição não são para estabelecê-los como “alguém”, isto é, chefes e senhores, mas para tomarem a posição mais inferior. Eles devem usar seus dons divinos para servir aos outros, em vez de elevarem-se a si mesmos. As ações de Jesus são muito mais do que apenas a base para uma nova cerimônia de lava-pés na Igreja. Aqui, nosso Instrutor Divino mostrou-nos um tremendo princípio que governa todo o exercício de autoridade espiritual entre Seu povo.

O que isso significa na prática? Significa que, quando Deus começa a usar alguém como um canal para Sua autoridade e, consequentemente, esse alguém começa a ser elevado aos olhos das outras pessoas, ele próprio não tem interesse em ser elevado, assim. Seu coração não está sintonizado em si próprio, ou em algum tipo de “posição”, reconhecimento, ou fama, mas sim inclinado a servir ao próximo.

Eles são humilhados diante de Deus e, então, tornam-se, em cada sentido da palavra, servos. A ambição de suas vidas não é mais tornar-se “alguma coisa” na Igreja, mas levantar outros para ser o que Deus quer que eles sejam. O “eu” não é mais a motivação. Pelo contrário, o bem dos outros torna-se a força dominante governando suas ações. Esta é a pessoa que realmente entendeu a mensagem de Deus e, logo tornou-se muito útil para o Seu reino. Por outro lado, se a pessoa não tem esta atitude no seu íntimo, então não está verdadeiramente qualificada para o ministério espiritual.

Aqueles que são realmente instrumentos de Deus não estão tentando “construir seu próprio ministério”. Sua motivação nunca é “construir uma igreja maior que a dos outros”, ou manter sob sua influência o maior número possível de pessoas. Não estão criando seus próprios impérios ou reinos, usando o nome de Jesus e a Palavra de Deus como um pretexto para viverem em prol de si mesmos.

Estas não são pessoas que gostam de controlar as outras e de aproveitar-se do ar de “homem ou mulher de Deus”. São, simplesmente, servos trabalhando para o bem dos outros. Essa autoridade nunca é pesada ou exigente demais, porque a pessoa que a manifesta não pretende tirar proveito pessoal dela. É uma autoridade com uma motivação completamente diferente de qualquer coisa humana. Este tipo de liderança só pode vir de outra fonte. Revela o verdadeiro caráter de Deus.

“TÍTULOS” NO NOVO TESTAMENTO

Os “títulos” que o Novo Testamento usa para descrever os servos de Deus refletem muito fortemente a verdade descrita acima. No texto original, a ideia de homens e mulheres reinando e governando sobre outros na Igreja não existe de forma alguma.

Em muitos casos, porém, as tradições e práticas atuais das igrejas ligadas à tradução deturpada de vários versículos da Bíblia transmitem um sentido errôneo. Muitas vezes, o verdadeiro significado da terminologia foi grandemente distorcido ou já se perdeu em nossa geração moderna.

Talvez o melhor exemplo deste problema seja a palavra “ministro”. Hoje, o pensamento comum é que um “ministro” é alguém que “comanda” a igreja. Esta pessoa tem um título oficial, uma posição religiosa, talvez tenha também ornamentos especiais que veste para distinguir-se dos outros e, em geral, é elevado acima dos outros. Geralmente, espera-se dos membros um maior grau de respeito, semelhante ao que alguém daria a um dignitário político.

Contudo, a revelação nas Escrituras sobre o que é ser um “ministro” é muito diferente. Na verdade, há três palavras gregas diferentes que são traduzidas como “ministro”. A primeira é DIAKONOS, que significa “servo” ou “atendente”. A segunda palavra, LEITOURGOS, refere-se a alguém que servia o público de uma maneira especial, por conta própria. A terceira palavra, HUPERTES, originalmente, significava “remador inferior”, que era uma classe mais baixa de marinheiros. Sem dúvida, nenhum desses marinheiros estaria no comando do navio. Mais tarde, passou a significar qualquer subordinado agindo sob a direção de outro.

Algumas outras palavras que se relacionam com o pensamento de serviço espiritual são: DOULOS, um escravo cativo; OIKETES, um servo doméstico; MISTHOIS, um servo contratado; e PAIS, um servo menino. (Definições do Dicionário Expositor de Palavras do Novo Testamento, de W. E. Vine).

Nada em qualquer dessas palavras sugere o conceito que comumente encontramos na Igreja, hoje. Servos não dizem o que fazer àqueles a quem estão servindo. Não são aqueles que reinam e governam sobre outros. Pelo contrário, sua função é assistir aos outros, servindo-os de maneira humilde. Nestes termos não descobrimos exaltação do “ego”, elevação aos olhos do mundo e nem posição especial de respeito social. Encontramos o verdadeiro oposto disso.

O uso destes vocábulos sugere que aquelas pessoas humilharam-se e se tornaram servas genuínas, seguindo o exemplo de nosso Senhor Jesus por toda Sua vida (Fp 2:8). Com esta breve investigação, parece que a palavra “ministro” tornou-se tão mal empregada na Igreja que, virtualmente, passou a significar o oposto do que significava no tempo de Jesus.

FUNÇÕES DE SERVIÇO

Creio que está na hora de todos nós reavaliarmos seriamente nossos conceitos sobre o que Deus tenta nos transmitir em Sua Palavra. Quando termos como “apóstolo”, “profeta”, “pastor”, “ancião”, etc., são usados, qual é o pensamento de nosso Mestre por trás deles? Pela nossa discussão, é óbvio que não podem ser títulos ou rótulos significando posições especiais de importância na Igreja. Isso estaria em contradição direta com o claro ensino e exemplo de Jesus. Portanto, precisamos ir além, até que tenhamos, à luz de Deus, uma revelação que esteja em harmonia com toda as outras escrituras.

Em vez de serem consideradas como títulos posicionais, estas palavras como “pastor”, “apóstolo” e “ancião” poderiam ser entendidas simplesmente como descrições de certas funções de serviço no Corpo de Cristo.

Talvez isso seja melhor ilustrado pelo uso de analogias terrenas, já que não temos nenhum preconceito religioso concernente a elas. Por exemplo: Qualquer um pode pescar. No entanto, quando alguém pesca com frequência e se torna um adepto da pescaria, podemos dizer que ele é um “pescador”. Este não é seu título ou algum tipo de posição, mas uma descrição do que ele faz.

Semelhantemente, muitos podem consertar um cano, mas, quando fazem este tipo de trabalho com regularidade e tornam-se bons naquilo que fazem, são considerados “encanadores”.

Também é assim na Igreja. Deus designou, para cada um, tarefas especiais. Hoje, poderíamos chamá-las de “ministérios”. São áreas únicas de serviço, através das quais cuidamos do Corpo de Cristo. Quando alguém é regularmente usado por Deus na área de profecia e se torna conhecido pelo exercício deste dom, pode ser chamado de profeta. Quando alguém é especialmente mandado por Deus para estabelecer e manter igrejas, é conhecido como um apóstolo, que significa “enviado”.

Quando essas palavras, que hoje são consideradas como títulos ou posições na igreja, são vistas como simples descrições de funções de serviço, todo conflito com os ensinamentos de Jesus desaparece. Em vez de ser um meio de elevar certos indivíduos talentosos acima dos demais, elas são, na realidade, um meio de descrever que tipo de servos estas pessoas são. Essa ideia é fortemente justificada quando verificamos como essas palavras não são usadas no Novo Testamento. Por exemplo, as Escrituras nunca usam a frase o “Apóstolo Paulo”, designando um título. Pelo contrário, lemos: “Paulo, o apóstolo”, o servo, alguém que foi enviado por Outro para executar um serviço para a Igreja. Nunca encontramos “Ancião Pedro”, “Reverendo Tiago”, ou “Pastor João” na Bíblia. Algo completamente diferente disso está na mente de Deus.

Além destas diversas descrições ministeriais não serem usadas como títulos no Novo Testamento, Jesus também proibiu rigorosamente o uso de títulos entre os Seus seguidores. Quando Ele disse: “A ninguém sobre a Terra chameis vosso pai” (Mt 23:9), não era simplesmente a proibição do uso de uma mera palavra. Era uma instrução clara contra a elevação de certos indivíduos a uma posição proeminente pelo uso de um título. Qualquer uso de título entre o povo de Deus para indicar uma posição de autoridade, honra ou respeito é estritamente proibida por Jesus.

Ele explica, dizendo: “Vós todos sois irmãos”. Vocês são todos iguais. São todos do mesmo nível. Ninguém consegue ser maior, melhor ou mais importante que o outro. Ele reforça a verdade, insistindo: “Vós, porém, não sereis chamados mestres, (...) nem sereis chamados guias” (alguns textos gregos antigos dizem “líderes” ou “discipuladores”, em vez de “guias”) (Mt 23:7-10).

Isso indica que todo uso de palavras especiais para distinguir e elevar um crente acima de outro é contrário ao claro ensinamento da Palavra de Deus. Glória a Deus, todos os títulos são reservados para Jesus! Ele é o “Rei dos Reis” e o “Senhor dos Senhores”.

A ORDEM DIVINA

Hoje, em círculos cristãos, muitas pessoas estão ensinando sobre a ordem divina. O pensamento básico por trás deste ensinamento parece ser o de que existe um tipo de hierarquia, uma espécie de rede de comando dentro da Igreja de Deus, que, quando nós a reconhecemos, nos submetemos e “entramos em sintonia com ela”, estamos fazendo a vontade de Deus e recebemos uma bênção. Nessa “rede de comando”, os apóstolos estão no topo, depois vêm os profetas, os evangelistas, etc.

Outros grupos talvez coloquem o “pastor” como líder, os anciãos logo abaixo e depois os diáconos, professores da escola dominical e assim por diante, descendo a linha. Embora haja muitas variações sobre este tema, os fundamentos, em geral, são os mesmos: existe um tipo de pirâmide semelhante a uma empresa, ou governo terreno, dentro da Igreja. Eles insistem que é através desta estrutura que Deus lidera Seu povo.

Com isso em mente, vamos ler juntos a Palavra. “Então Jesus, chamando-os, disse: ‘Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos’ ’’ (Mt 20:25-28).

Que declaração! Que verdade importante é essa! Aqui Jesus está proibindo absolutamente qualquer exercício de autoridade de um crente sobre outro. Isso é algo que, embora seja comum hoje, é estritamente proibido por nosso Senhor. Aliás, em Seu reino, deve ser “pelo contrário”.

No relato de Lucas, descobrimos que estes reis terrestres que exerceram liderança foram chamados de “benfeitores”. Em outras palavras, eles exerciam autoridade sobre as pessoas para o bem delas. Suas exigências eram, supostamente, para beneficiar os outros de uma forma ou de outra. Com relação à esta ideia, Jesus também disse: “(...) pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve” (Lc 22:25-27).

A ideia de um cristão exercendo autoridade sobre outro, mesmo que seja em “benefício” deste, é estritamente proibida. Aqui, encontramos a verdadeira ordem divina. Dentro da Igreja deve ser exatamente o oposto do modo como é no mundo. O caminho de Deus é o inverso. O maior é aquele que serve aos outros discretamente, de forma humilde.

Enquanto no mundo há uma hierarquia e uma rede de comando, na Igreja de Deus não deveríamos encontrar algo semelhante. Essa conduta foi rigorosamente proibida por nosso Deus! Não importa o que os outros estejam fazendo. A prática popular ou os costumes de nossos tempos não têm sustentação nesse assunto.

Fomos chamados para obedecer a Jesus. Muitos de nós, comumente, afirmam que creem na inspiração divina da Bíblia e que as palavras ali registradas são da maior autoridade. Como, então, podemos permitir que a opinião popular e os métodos atuais controlem nosso trabalho para o Senhor?

VERDADEIRA LIDERANÇA

Portanto, este é o plano de Deus. Aqueles que estão sendo usados por Ele para transmitir Sua autoridade têm uma atitude completamente diferente daqueles que têm autoridade no mundo. Eles não têm a intenção de “exercer autoridade” sobre outro irmão ou irmã, mas estão simplesmente expressando a vontade de Deus de acordo com a Sua direção. Estes homens e mulheres nunca chegam a uma posição para serem maiores que os outros ou para estarem acima deles, mas são servos usando seus dons para edificar as pessoas.

Acerca da autoridade manifesta através dele, o próprio Paulo disse: “(...) não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores de vossa alegria” (2 Co 1:24). Ele e seus cooperadores não tinham nenhum “domínio” sobre os outros. Eles eram meros ajudadores.

Embora algumas versões da Bíblia em português traduzam 1 Tessalonicenses 5:12 como se alguém estivesse “sobre” o outro no Senhor, a palavra em grego, aqui, é PROISTEMI, que significa basicamente “andar em frente” e não “reinar sobre” ou “comandar”. Como já vimos, o conceito completo de Jesus e das Escrituras é tornar-se um servo, não um soberano. Embora alguns possam estar à frente de outros em termos de maturidade e na caminhada espiritual, isto não significa que eles devem dominar sobre o Corpo de Cristo.

É humanamente impossível estar acima de algumas pessoas e ser servo delas ao mesmo tempo. Estas duas posições, estar acima e estar abaixo, são opostas. Elas são exclusivas. Para ser um servo, você tem de parar de ser um mestre. Para estar sob alguém, você precisa parar de estar sobre. Quando permanecemos em uma posição de superioridade e autoridade, não podemos ter sucesso em sermos verdadeiros servos.

O único caminho para permanecermos como servos e ainda manifestarmos autoridade é quando a autoridade não é nossa. Quando se torna extremamente claro que não podemos obter nossa própria autoridade, mas somos meramente vasos humildes, toda contradição desaparece. Quanto mais nos recusamos a sermos elevados a uma posição de autoridade ou a darmos a falsa impressão de termos qualquer autoridade própria, Deus pode nos usar para expressar-Se, enquanto permanecemos escravos dos nossos irmãos.

Talvez seja útil, aqui, investigarmos o que o conceito de liderança requer. “Liderar”, no sentido bíblico, não significa comandar, ordenar nem, de modo algum, exercer autoridade “sobre”. Em vez disso, significa que alguém vai à frente como um exemplo. O resto, vendo este exemplo, percebe que vem de Deus e o segue.

Este é exatamente o modo como agia um verdadeiro pastor nos tempos de Jesus. Ele desenvolvia uma relação íntima com seus animais. Eles o conheciam bem e confiavam nele. Assim, quando ele deixava o aprisco, seguiam-no sabendo, por experiência, que ele os levaria para pastos mais verdes.

Aqueles pastores não dirigiam as ovelhas por trás. Não mandavam uma ordem para as ovelhas irem a um determinado lugar. Em vez disso, eles iam à frente do bando. Era o seu exemplo e a sua fidelidade que os fazia líderes. Esta é a autoridade no Novo Testamento. É um trabalho de amor, demonstrando, pelo exemplo e fidelidade, a vontade de Deus. É interessante que Deus tenha escolhido termos como “ancião” ou “pais” para descrever aqueles que eram mais maduros no Senhor. Estes termos (em oposição a “general” ou “governador”, por exemplo) foram cuidadosamente escolhidos para expressar o pensamento de Deus.

Se você pensar sobre isso, irá perceber que há um importante aspecto em um pai ou um avô, que é completamente diferente em alguém que está no comando. É simples: um pai tem em mente o bem-estar de seus filhos. Não há problema, para um pai, quando seus filhos se tornam maiores que ele. Na verdade, é seu objetivo que o superem. Se eles podem ser mais bem-educados, mais felizes, mais ricos, ter uma casa e uma vida melhor é uma grande alegria para ele. Sua meta é servi-los e ajudá-los a prosperar em todas as áreas. Os pais devem ser, no verdadeiro sentido, servos de seus filhos.

Semelhantemente, o objetivo de um verdadeiro servo de Deus é edificar seus irmãos. Seu trabalho é manifestar a realidade de Jesus a eles de modo a encorajá-los a se tornarem verdadeiros discípulos. Nossa tarefa é servir a outros, não a nós mesmos. Nosso privilégio é encorajá-los a seguir a Jesus de um modo que se tornem “maiores” do que nós.

Se eles se tornarem mais sábios, mais poderosos, mais usados por Deus ou mais reconhecidos, isso deveria ser para nós uma fonte de maior bênção. Já que somos seus servos, é somente uma alegria, para nós, quando são exaltados. Este é um cumprimento de nosso ministério: Fazer com que outros tornem-se tudo o que Deus quer que sejam.

Contrastemos isso com o que acontece no mundo, hoje. Na política, negócios, esportes, teatro e em qualquer outra atividade, as pessoas estão batalhando pelo topo. Elas querem ser as maiores e melhores, as mais ricas ou as mais famosas. Essa competição para ser grande torna-se uma manifestação horrível da natureza humana caída.

Conflitos de poder, mentiras e decepção fazem parte do processo. Não admitir fraqueza ou falha, não deixar com que saibam como você realmente é por dentro; estas são as necessidades absolutas para seguir em frente. As aparências são muito mais importantes que a realidade, porque isso é o que influencia as pessoas. Assim, a hipocrisia não tem limites. Em resumo, muitos habitantes desta Terra estão diariamente envolvidos na luta pelo poder. Eles tentam elevar-se acima de outros, ao mesmo tempo em que tentam evitar que outros cheguem na frente.

QUAL A NOSSA CONDIÇÃO?

Como, então, encontramos a situação da Igreja, em nossos dias? Com qual dos dois exemplos acima poderíamos comparar as práticas que encontramos na Casa de Deus? Infelizmente, é comum que o segundo exemplo descreva a situação da Igreja. O desejo humano de elevar-se é encontrado em muitos púlpitos. A tendência de manter os outros abaixo também está presente.

O desejo de tornar-se mais e mais poderoso, influente e famoso, não motiva apenas alguns “ministros”. A regra, hoje, é descobrir “quantas pessoas” um líder tem em “sua” igreja. Quantas igrejas ele tem afiliadas ao seu ministério? Quais são os números? Quanto sucesso? Quão grande este “servo” se tornou?

Essa prática tem ido tão longe, que tenho ouvido falar de algumas escolas bíblicas que ensinam aos futuros líderes até mesmo técnicas especiais para manter sua autoridade. Eles entendem bem que, se as pessoas virem o lado humano desses líderes, terão dificuldade em reconhecer sua autoridade.

Então, instruem a manterem-se afastados da congregação. Advertem-lhes a não tornarem-se amigos “daqueles que estão nos bancos da igreja” e a não deixarem com que saibam de seus problemas pessoais. Se assim o fizerem, as pessoas não irão respeitá-los ou acatar sua autoridade.

Isso não apenas resulta no estabelecimento de uma falsa autoridade na igreja, como também condena o líder, que fica atrelado a uma experiência cristã isolada e, portanto, incompleta. Este tipo de autoridade humana é completamente estranha à compreensão neotestamentária da Igreja.

Também é comum encontrar líderes cristãos lutando para manter sua posição na igreja. Quando outra pessoa começa a ser elevada por Deus na congregação e a ser reconhecida e respeitada pelos outros como tendo uma mensagem de Deus, o líder atual pode encontrar um meio de livrar-se dela.

Manda-a embora para fazer um seminário. Deixa que ela tenha sua própria igreja. Acusa-a de ser rebelde e a põe para fora. Qualquer método é válido, desde que preserve a posição de quem está no poder. Acusações, medos e competição, todas formam a base da luta carnal pelo poder.

Por outro lado, a verdadeira autoridade espiritual flui de Deus. Ninguém realmente usado por Deus necessita lutar para ganhar uma posição ou um ministério. Jesus é quem levanta líderes entre Seu povo. Líderes genuínos nunca se destacam pela própria capacidade de pregar, ensinar e fazer com que pensem bem deles, em geral.

O rei Davi, por exemplo, era um humilde pastor, mas o Senhor o escolheu para dirigir seu povo. Muitos dos profetas não eram nada até que Deus tocasse suas vidas e começasse a fluir através deles. Ministério não é um produto de ambição, mas um resultado de intimidade com Deus. Aqueles que são realmente usados por Deus são aqueles que servem aos outros mais do que a seus próprios egos. Estas são as obras que permanecerão no Dia do Julgamento.

Também nunca há a necessidade de defender nossa “posição” ou ministério. Um servo verdadeiro não tem posição para defender. Ele está simplesmente à disposição de Deus para ser usado ou não, conforme a vontade do Senhor.

Quando a liderança de Moisés foi desafiada, sua reação foi lançar-se sobre a sua face diante de Deus. Ele sabia que era o Senhor que o estava usando e que era o Seu poder que o estava sustentando. Força humana e raciocínio só iriam macular o testemunho do que Deus estava fazendo através dele. Deus irá defender o que é verdadeiramente Dele. Nada irá impedir que Sua vontade seja feita com o passar do tempo. Nunca há necessidade de um esforço humano para garantir a obra de Deus.

Disputas, contendas, debates, conflitos de poder, etc. são obras da carne. Humildade, bondade e brandura são uma evidência do Espírito Santo. Se estamos mordendo e devorando uns aos outros, isso certamente causará destruição na família de Deus (Gl 5:15). Se formos tocados e profundamente humilhados por Deus para sermos servos do Seu povo, nossa obra trará bênção e ministério para todos ao nosso redor.

Essa é uma grande necessidade atual. Não ouvir aqueles que estão usando as coisas de Deus para elevarem-se e edificarem seus próprios “ministérios”, mas receber daqueles humildes através dos quais Deus está se manifestando.

Um dia, enquanto os doze caminhavam com Jesus, iniciaram um debate. Estavam disputando quem seria o maior quando Jesus fosse rei. O Senhor usou esta oportunidade para tentar mostrar-lhes, de novo, algo sobre como Ele pretendia que o Seu Corpo funcionasse. Ele tomou uma pequena criança e colocou-a ao Seu lado, dizendo algo muito profundo: “(...) aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande” (Lc 9:48).

Uma outra vez, dois dos discípulos estavam fazendo uma solicitação especial para posições de autoridade. Jesus fez, de novo, um pronunciamento que é exatamente o contrário do nosso modo normal, humano, de pensar. Lê-se: “(...) quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir (...)” (Mt 20:26-27).

Essas verdades não são meramente lindas filosofias religiosas. Jesus nos ensinou essas palavras para que busquemos entrar na realidade delas. Ele quer que as coloquemos em prática. “Ora, se sabeis estas cousas, bem-aventurados sois se as praticardes” (Jo 13:17).

O PERIGO DO RECONHECIMENTO

Temos falado sobre a necessidade de humildade na obra de Deus e como um verdadeiro líder é realmente um servo. Entretanto, é inevitável que, quando Deus começa a usar um instrumento humano, algumas pessoas passam a se impressionar e, pelo menos em suas próprias mentes, o elevam a algum tipo de posição. Quando a verdadeira autoridade espiritual é expressa, resulta com frequência na obtenção de algum tipo de respeito e reconhecimento.

Isso coloca o servo de Deus em uma posição perigosa. Uma vez que homens, mesmo que somente em suas próprias mentes, colocam tal pessoa nesta situação, a tentação é constante de usar essa autoridade terrena.

Em vez de continuar a confiar em Deus, torna-se possível recorrer a táticas humanas. Quando se levantam situações adversas, torna-se fácil tomar suas próprias decisões e fazer as coisas com suas próprias mãos. O interessante é que, quanto mais a pessoa é usada por Deus, maior é o perigo.

Novamente, a história de Moisés torna-se um exemplo para nós. Ele foi um homem que se tornou um canal para a autoridade de Deus de uma maneira notável. Ele provou ser quase completamente obediente em seu ministério. No entanto, uma vez, apenas uma vez, ele perdeu seu controle e escolheu usar sua própria autoridade para satisfazer às necessidades do povo. Em vez de obedecer e falar à rocha como Jeová o tinha instruído, Moisés irou-se e bateu na rocha com seu cajado.

Deus o honrou em sua posição e derramou água da rocha (Nm 20:11). Entretanto, aquele ato custou muito a Moisés. Através daquele único uso de autoridade humana, natural, sua entrada na terra de Canaã lhe foi negada. Aquela única vez que agiu por conta própria, em vez de obedecer a Deus, trouxe sobre ele um severo julgamento. Este acontecimento mostra claramente como Deus considera importante a distinção entre os dois tipos de autoridade. Todos os servos de Deus deveriam colocar isso no coração. Quando Deus os usa e eles são elevados aos olhos do povo, devem ser cuidadosos e manifestar apenas a autoridade do Espírito Santo que flui através deles. Qualquer autoridade natural ou posicional é desqualificada, mesmo que pareça atingir os objetivos desejados.

A vontade de Deus pode ser bem clara para os líderes. Contudo, qualquer uso de autoridade natural, cargo, ou posição não produzirá resultados espirituais. Aliás, nem pode. As Escrituras dizem: “Aquilo que é torto não se pode endireitar” (Ec 1:15). Nada que começa na esfera terrena pode produzir fruto espiritual.

NINGUÉM PODE FORÇAR A OBEDIÊNCIA

Outro ponto que deve ficar bem claro para o servo de Deus é que nunca devemos tentar forçar a autoridade de Deus. Nós nunca temos que tentar fazer alguém obedecer a Jesus. Não temos permissão para empurrar, disciplinar, humilhar, pressionar ou usar de qualquer outro meio para tentar forçar qualquer pessoa a obedecer.

Podemos ter certeza, em nossa própria concepção, de que Deus falou através de nós. Pode, de fato, ter sido Sua voz. Contudo, se nosso irmão ou irmã que recebeu a palavra não deu ouvido, não é nossa responsabilidade. Não é nossa tarefa insistir que eles ouçam e obedeçam. Como a autoridade de Jesus é que está sendo manifestada, é Sua responsabilidade tratar com cada um que se rebela contra ela. Nunca é de nossa alçada tentar forçar a vontade de Deus em qualquer pessoa. Isso seria simplesmente carnal e natural.

Este é, então, o modo de Deus: o homem ou a mulher que deseja agradar a Deus deve tornar-se servo ou serva. Devemos nos humilhar diante do Senhor e dos nossos irmãos em Cristo, em vez de agir à maneira do mundo. Em vez de procurar a exaltação aos olhos dos homens para podermos controlá-los, e deste modo “ajudá-los” nos caminhos de Deus, devemos ser modestos. Desta forma, apenas aqueles que estão realmente querendo ouvir a voz de Deus irão ouvi-Lo falar através de nós e serão obedientes.

Este foi exatamente o modo como nosso Senhor Jesus Cristo viveu enquanto esteve na Terra. Ele não apenas tinha o direito e a autoridade para exigir obediência, como também tinha o poder para forçar as coisas a caminharem do Seu modo.

Não obstante, em vez de usar esse poder, nós lemos: “Pois Ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a Si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl 2:6-8).

Queridos irmãos e irmãs, este é o Caminho: uma Pessoa Maravilhosa. Que possamos vivenciá-Lo completamente.

Final do Capítulo 4

Ler outros capitulos online:

Capítulo 1: DOIS TIPOS DE AUTORIDADE

Capítulo 2: A REBELIÃO DE CORÁ

Capítulo 3: A SARÇA ARDENTE

Capítulo 4: A FORMA DE UM SERVO (Capítulo Atual)

Capítulo 5: O CABEÇA DE CADA HOMEM

Capítulo 6: O CABEÇA DO CORPO