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De Glória em Glória

A SENTENÇA DA MORTE

Capítulo 5

De Glória em Glória, livro por David W. Dyer

Publicacao Grão de Trigo

Escrito por David W. Dyer

ÍNDICE

Capítulo 1: O AMOR DE DEUS

Capítulo 2: A OFERTA DA VIDA

Capítulo 3: AS DUAS ÁRVORES

Capítulo 4: AS DUAS NATUREZAS

Capítulo 5: A SENTENÇA DA MORTE (Capítulo Atual)

Capítulo 6: A SALVAÇÃO DA ALMA

Capítulo 7: O TRIBUNAL DE CRISTO

Capítulo 8: MONTANHAS E VALES

Capítulo 9: O SANGUE DA ALIANÇA

Capítulo 10: DIVIDINDO ALMA E ESPÍRITO (1)

Capítulo 11: DIVIDINDO ALMA E ESPÍRITO (2)

Capítulo 12: PELA GRAÇA, ATRAVÉS DA FÉ

Capítulo 13: A IMAGEM DO INVISÍVEL

Capítulo 14: A ESPERANÇA DA GLÓRIA

Capítulo 5: A SENTENÇA DA MORTE


Nos últimos capítulos, temos falado sobre o fato de que os verdadeiros cristãos têm, dentro deles, duas vidas, com duas naturezas. Do nosso pai Adão, nós recebemos uma vida natural, humana (em grego, PSUCHÊ), com uma natureza caída, pecadora. Quando “nascemos de novo”, recebemos de Deus, nosso Pai celeste, uma Vida não criada (em grego, ZOÊ), com a natureza divina.

Todo crente em nosso Senhor Jesus Cristo tem, dentro de seu ser, duas vidas que manifestam duas naturezas diferentes. Conseqüentemente, quando vivemos pela nossa vida natural, nós expressamos nossa natureza pecadora e, quando vivemos pela divina Vida, manifestamos a santa natureza de Deus. É aqui, então, que os cristãos encontram um dilema. Como é possível estar cheio da Vida de Deus e manifestá-la? Além disso, como é possível se libertar da velha vida que constantemente produz pecado?

No capítulo anterior, falamos da necessidade de comunhão com Deus para ser “cheio” de Sua Vida. Agora, vamos focalizar o plano maravilhoso de Deus para nos libertar do pecado. Para entender completamente o plano, necessitamos compreender inteiramente a corrupção da natureza humana.

Quando Adão e Eva compartilharam da árvore do conhecimento do bem e do mal, uma mudança profunda ocorreu dentro deles. A verdadeira natureza de suas vidas foi alterada. Eles se tornaram pecadores. A vida humana dentro deles, que antes era pura e sem pecado, tornou-se manchada pelo pecado. O fruto da vida caída é o pecado. É o produto espontâneo da vida caída que estava dentro deles.

Os homens hoje pecam, não porque eles escorregam de vez em quando e fazem algo errado, mas é porque é da natureza deles agir assim. O que provém deles é simplesmente uma expressão do que está dentro deles. Embora a completa expressão desta propensão para o pecado seja mantida sob algum controle pelos governos, pressão dos outros e pela consciência humana, em vários momentos da história este princípio do pecado tem sido irrestrito. Talvez, a história de Sodoma e Gomorra e o mais recente exemplo do holocausto nazista ilustrem adequadamente este ponto.

Alguns podem argumentar que o homem não é inteiramente pecador. Algumas vezes, o homem natural pode produzir alguns sentimentos, atitudes e obras realmente louváveis. Certamente é verdade que o homem pode exibir boas qualidades. Mas, mais cedo ou mais tarde, todos pecam. Pode ser de algum modo escondido, secreto, talvez mesmo somente em suas mentes, mas “...todos pecaram e carecem da glória de Deus...” (Rm 3:23).

Se nós pudéssemos ver profundamente no coração de cada homem, como Deus faz, sem dúvida iríamos encontrar em cada “bom” pensamento ou ação um elemento de satisfação própria, orgulho ou motivação egoísta. Este tipo de egoísmo desqualifica a pessoa de ser verdadeiramente reta como Deus é. A verdade é que o homem é irreparavelmente pecador.

Talvez uma boa maneira de compreender o problema seja pensar em uma jarra cheia de suco de fruta. Este suco é saudável e delicioso. Mas vamos supor que alguém venha e jogue um pouco de veneno no suco. Todo o conteúdo fica contaminado. Torna-se impróprio para beber. Teoricamente, há uma grande quantidade de suco “bom” na jarra. Mas todo ele se tornou impróprio para beber. Não há maneira de separar o suco do veneno. A única solução é jogar tudo fora. Dependendo do vasilhame, até mesmo ele deve ser descartado.

Quando Deus criou o homem, Ele deu instruções referentes à árvore do conhecimento com um severo aviso. Ele disse: “...no dia em que dela comerdes, certamente morrerás” (Gn 2:17). Deus pronunciou esta sentença com razão. Compartilhar desta árvore significava ter a sua natureza mudada, suas vidas poluídas. A única solução para o pecado é erradicar o pecador. O pecador, para não pecar mais, certamente deve morrer.

No Universo que Deus criou, este é o único caminho. A solução para o pecado é a morte. O pronunciamento original de Deus era verdade e ainda é verdade hoje. A Bíblia diz: “Pois quem morre fica livre do poder do pecado” (Rm 6:7 TLH). Esta é a única possibilidade de livrar a humanidade do pecado. A própria raça toda necessita ser eliminada. O veneno contaminador não pode ser separado do “suco”. Tudo deve ser jogado fora. Paulo, o apóstolo, confirma esta verdade em sua própria vida, afirmando: “Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos...” (2 Co 1:9).

O PLANO DIVINO

Nos capítulos anteriores, estivemos vendo que Deus criou o homem com um plano maravilhoso em Sua mente. Seu desejo divino era formar uma criatura à Sua imagem e semelhança que, eventualmente, iria receber Sua Vida e tornar-se Sua noiva. Com a queda da humanidade, parecia que este desejo de nosso Senhor estava impedido. O que originalmente fora puro e bom, tinha sido contaminado pelo mal. Entretanto, nosso Deus é extremamente sábio. Mesmo antes da fundação do mundo, Ele anteviu que tudo isto iria acontecer. Com este conhecimento prévio, Ele planejou e preparou um modo de eventualmente cumprir tudo aquilo que estava em Seu coração.

A primeira parte de Seu plano, que compreendemos, foi que Deus ofereceu aos seres humanos uma Vida substituta. A Vida de Deus (Ef 4:18), que nós podemos receber através de Jesus Cristo, é verdadeiramente a resposta. É esta Vida que agrada a Deus e é esta Vida que não vai pecar e, de fato, não pode pecar. Esta é a Vida ZOÊ, sobre a qual falamos no capítulo 2.

A segunda parte do plano que estaremos investigando, aqui, é como a velha vida da alma, com sua velha natureza, pode ser eliminada (vamos ser bem claros aqui, que não estamos falando de perder a nossa vida física, mas sobre a vida da alma ou PSUCHÊ). Há limitado “espaço”, em cada ser humano. Não podemos ser preenchidos até a borda com duas vidas ao mesmo tempo. Para sermos preenchidos com a Vida de Deus (ZOÊ), precisamos ser libertos de nossa própria vida (PSUCHÊ). Como compreendemos aqui, a solução para o problema é a morte. Certamente devemos morrer.

Este é um aspecto do evangelho que poucos cristãos compreendem. Muitas pessoas recebem a Jesus com a esperança de uma grande melhora em suas vidas. Talvez, sejam levadas a acreditar que irão se sentir melhor, que irão encontrar a solução para todos os seus problemas ou mesmo que se tornarão ricas e prósperas. Mas a verdade de Deus aparece sobre elas. Jesus afirmou claramente: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24).

Naqueles dias de Jesus, ninguém carregava uma cruz para se divertir. Também, quando alguém carregava uma cruz, não andava sozinho. Ele estava cercado com soldados romanos. E ele estava indo para um só destino – a morte. Portanto, quando Jesus nos instruiu a tomar nossa cruz, estava falando justamente sobre esse evento, nossa morte. Receber o dom da Vida de Deus e segui-Lo significa que você precisa morrer. Você, sim, você, pecador, precisa ser eliminado do Universo. Esta é a única solução para você.

É parte integral do plano de Deus. Embora nós talvez prefiramos focalizar o amor de Deus, nossa morte também faz parte do evangelho e, para realmente compreender o evangelho, precisamos entender o aspecto da morte muito claramente.

Você realmente foi convencido do pecado? Você realmente compreende pela luz de Deus o quão podre você é em seu interior? Você realmente se arrependeu, não apenas do que você fez, mas também pelo que você é? Quando você recebeu Jesus, fez isso com a compreensão de que esse era o fim de sua vida?

Se você não pode honestamente responder “sim” a estas questões, então o seu relacionamento com Jesus não está correto. Você não entendeu bem o evangelho e corre o risco de perder a maior parte, se não tudo, do que Deus tem em mente para você.

Vamos tomar um tempo aqui para falar do batismo. O batismo é claramente parte integral da mensagem que Jesus pregava. Nós lemos: “Quem crer e for batizado, será salvo” (Mc 16:16). Paulo e os outros apóstolos também praticavam o batismo. Mas o que batismo significa? Significa que estamos prontos para morrer. Ser imerso na água não é um banho. Simboliza afogamento, morte. Nós somos batizados na morte de Jesus (Rom 6:3).

Nosso batismo significa que estamos confessando, diante de todo universo, que somos merecedores da morte e que realmente estamos prontos e desejamos experimentar a morte que Cristo tem para nós. Significa que compreendemos a podridão de nosso pecado e concordamos com o julgamento de Deus sobre ele.

Nosso batismo testifica, até o fim de tudo aquilo que éramos, que somos ou mesmo que queremos ser. Estamos concordando com a sentença de morte de Deus e prontos para que Ele a aplique em nós. Se você foi batizado sem esta nítida compreensão e convicção você verdadeiramente tem perdido a mensagem de Jesus.

MORTE E RESSURREIÇÃO

Jesus disse: “Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11:25). Aqui está um grande e importante mistério. Em Jesus Cristo, podemos realmente experimentar a morte e ainda viver. O julgamento inalterável de Deus de que precisamos morrer pode ser executado sobre nós sem nos eliminar completamente. Nosso Pai, em Sua grande sabedoria, preparou um jeito de passarmos pela morte sem sermos destruídos. Em Cristo, o que somos como ser humano natural, pode ser crucificado e substituído por tudo o que Ele é. Nós podemos passar da morte para a Vida (1 Jo 3:14).

Aqueles que estão em Cristo não evitam a morte. Eles passam através dela. A necessidade de Deus eliminar os pecadores não mudou e nem pode mudar. Se fosse para Ele permitir aos pecadores entrar em Seu reino eterno, eles iriam poluir o novo mundo, assim como poluíram o velho. Nenhum pouco de restrição da velha natureza irá qualificá-los para entrar no reino de Deus. Ela deve ser eliminada. E o será. Glória a Deus, porque Ele preparou um caminho para nós. Nele, podemos experimentar a morte e a ressurreição. Assim como Noé, em sua arca, passou pelo julgamento de Deus e não morreu, assim, entrando em Cristo, nós também podemos passar da morte para a Vida.

A cruz de Cristo está no centro da mensagem do Evangelho. Este instrumento romano de tortura e morte está no âmago da cristandade. Mas o que ela significa? Não é apenas um símbolo cristão ou uma peça de joalheria. Ela fala do final da vida. Ela significa o seu fim. Significa que você acabou. Suas esperanças, seus sonhos, suas opiniões, desejos, cuidados, planos e futuro, tudo se acabou. Você foi julgado e crucificado. Não há mais nenhum lugar para “ego” no Universo de Deus.

E, em seu lugar, pode existir a Vida de um Outro. Alguém maior e mais poderoso do que você está pronto e desejoso de preencher você com tudo o que Ele é. Não será mais você quem será visto e ouvido. Não mais predominará aquilo com o que você se importa. Ao contrário, o Deus do Universo usará a sua mente, suas emoções, desejos e mesmo o seu corpo para fazer a vontade Dele na terra.

Quando Jesus morreu na cruz do Calvário, de um modo espiritual que é difícil compreender, nós também morremos com Ele. (Rm 6:4-6). Quando Ele foi levantado dos mortos, nós também fomos levantados com Ele. A cruz de Cristo é um lugar de morte e ressurreição. É lá que uma troca importante é feita.

Na cruz, trocamos tudo o que somos por tudo o que Ele é. Nossa vida da alma, com sua natureza pecaminosa, morre, e a Sua Vida, com a Sua natureza santa, passa a viver em lugar dela. Nós diminuímos e Ele cresce (Jo 3:30). Nossa morte com Ele é uma entrega maravilhosa daquilo que somos para que haja lugar para o preenchimento com tudo o que Ele é.

Se você deseja e está pronto para isto, é uma grande bênção e libertação. Se você ainda não determinou em sua mente que isto é o que você necessita e deseja com todo o seu ser, então você terá grande dificuldade em experimentar qualquer progresso espiritual. Sem a experiência da cruz, não há verdadeiro cristianismo. Sem a morte de Cristo operando dentro de nós, não pode haver um genuíno caminhar com o Senhor Ressurreto. Somente através da cruz de Cristo, podemos ser libertos do que nós somos e ser preenchidos com o que Ele é. É a cruz que nos traz para dentro de Deus e que traz Deus para dentro de nós, de uma maneira poderosa e sobrenatural. Sem morte, não poderá haver ressurreição. (Veja Filipenses 3:10, 11).

Para andar em “novidade de vida” (ZOÊ) conforme Romanos 6:4, nós primeiro precisamos passar pela morte. Isto não é algo que acontece imediatamente. É um processo gradual. Se estamos desejando caminhar com Jesus, experimentaremos a morte a cada dia. Paulo escreve: “Dia após dia, morro!” (I Co 15:31). À medida que a Vida de Deus cresce dentro de nós, a experiência da cruz se aprofunda. Devemos estar: “...levando sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo” (2 Co 4:10).

A aplicação ou a experiência da cruz de Jesus Cristo – a execução da sentença de Deus – torna-se real para nós através do Espírito Santo. Não é algo que possamos fazer por nós mesmos. Nenhuma quantidade de esforço irá alterar a natureza da nossa vida da alma. Mesmo nos empenhando para “negar a nós mesmos”, não chegaremos ao alvo. À medida que nós simplesmente aprendemos a andar no Espírito, dia a dia, tudo o que existe em Cristo torna-se real para nós. A morte de Jesus na cruz torna-se nossa experiência diária, à medida que somos continuamente “enchidos” com o Espírito Santo. É o Espírito de Deus que aplica a morte de Jesus sobre a nossa vida e natureza pecadora. Sua palavra diz: “...se pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis [tereis Vida ZOÊ] (Rm 8:13).

Esta verdade nos ajudará a compreender a necessidade de sermos “preenchidos” por Deus, a cada dia. Nossas habilidades e forças naturais não são mais úteis enquanto estiverem debaixo do controle de nossa velha vida. A menos que estejamos andando diariamente com o Santo Espírito e na luz de Deus, nunca estaremos livres daquilo que somos como homens naturais. Nunca teremos uma vida vitoriosa sobre o pecado. Somente através da ação do Espírito Santo tornando a morte de Cristo real para nós, teremos a experiência diária da ressurreição.

Aqui está o segredo do verdadeiro cristianismo: a experiência da morte e ressurreição de Jesus. Este segredo foi demonstrado pelos três sábios que vieram ver o Senhor em Sua encarnação. Estes sábios trouxeram três presentes: ouro, incenso e mirra.

Mirra é um condimento que os homens daqueles tempos usavam para embalsamar corpos mortos. Portanto, este presente fala da morte de Cristo. Incenso é uma madeira que, quando queimada, produz uma fumaça suave que sobe, referindo-se à ressurreição e ascensão de Cristo. Ouro é o único metal que não oxida, ou seja, não enferruja. Ele representa a natureza incorruptível de Deus. Unir todas estas coisas nos dá um quadro maravilhoso. A experiência da morte e ressurreição de Jesus nos leva à posse da natureza divina, o ouro puro que Ele é.

A OFENSA DA CRUZ

Se você está lendo esta mensagem e de modo algum não foi ofendido por ela, talvez você não esteja compreendendo bem o que está sendo dito. A pregação da cruz é verdadeiramente uma ofensa. Para muitos é um ponto de tropeço. Quando Jesus explicou à grande multidão de seguidores que Ele seria crucificado, a maioria O deixou. Eles foram ofendidos pela ideia da morte. Paulo claramente nos conta que Jesus é a “pedra de tropeço e rocha de escândalo” (Rm 9:33). A verdadeira ideia de que o que nós somos nunca será aceitável a Deus é uma pílula amarga para engolir.

Admitir que somos pecadores e que necessitamos ser substituídos por Outro é humilhante ao máximo. Portanto, somente aqueles que se humilham podem entrar no reino de Deus. Verdadeiramente, Jesus disse: “E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço” (Mt 11:6).

A cruz de Cristo, freqüentemente, causa ofensa. Levar à morte áreas de nossa vida que amamos e que apreciamos pode ser extremamente difícil. O que somos por natureza, que aparentemente parece tão bom, é, na realidade, um obstáculo ao melhor de Deus. Entretanto, no meio do sofrimento de nossa situação, esta verdade pode ser difícil de ser vista.

Embora possa haver problemas óbvios em nossas vidas, dos quais nos sentimos alegres de nos livrar, não é raro descobrir que Deus deseja matar algo que nós consideramos precioso. Precisamos estar preparados para isto. Nossa fé precisa descansar em Deus, acreditando que Ele vai levantar da morte algo muito melhor do que aquilo que entregamos a Ele.

Infelizmente, muitos crentes em algum momento ou situação difícil, ficam ofendidos e, então, se distanciam de Jesus. Embora eles continuem a ser “bons membros da igreja” e levem, exteriormente, vidas corretas, internamente eles estão resistindo ao Espírito Santo. Eles chegaram a um determinado ponto em que se recusam a ceder mais a Deus e, lá, eles permanecem. Na realidade, tais pessoas pararam de seguir o Senhor. Esses crentes estão em uma posição espiritual muito perigosa.

O endurecimento do coração de um homem pode ser tão devagar que é quase imperceptível. Mas, no final, o resultado é destruição. Nada da velha vida será capaz de permanecer na presença de Deus. Nossa velha natureza adâmica não pode herdar a eternidade.

O trabalho que Jesus Cristo fez na cruz foi completo. É absolutamente suficiente para nos transformar em Sua imagem, de um grau de glória a outro (2 Co 3:18). Nenhuma parte de nossa vida foi etiquetada “difícil demais”. Deus nos abriu o caminho para sermos feitos completamente novos. Entretanto, esta experiência requer alguma cooperação nossa. Deus não vai nos forçar a nada. Precisamos desejar negar a nós mesmos, pegar a nossa cruz e segui-Lo.

Não há dúvida de que a velha natureza se oporá a esta crucificação. Muitas vezes, alguma coisa dentro de nós gritará que isto é demais, que isto é difícil demais, que esta não deve ser a maneira de Deus, que isto não pode ser verdadeiro cristianismo. O amor a si mesmo é o inimigo da cruz e, portanto, o inimigo de Cristo. Reconhecer este inimigo como ele é e condená-lo com o mesmo julgamento com que Deus o julgou, é o único modo de sermos capazes de andar em novidade de Vida e no poder da ressurreição.

Quando Jesus estava explicando aos discípulos que ele precisava morrer, Pedro, um dos Seus mais ardentes seguidores, discutiu com Ele, dizendo: “Senhor; isso de modo algum te acontecerá” (Mt 16:22). Em outras palavras, ele estava dizendo: “Não seja tão duro consigo mesmo! Certamente você não precisa de tão drástica solução!”

Esta também é a nossa freqüente resposta, hoje. Nós achamos que experimentar a cruz é muito difícil. Certamente, no amor de Deus, Ele poderia ter um caminho mais fácil. Mas qual foi a resposta de Jesus a este apelo por auto preservação? Ele disse: “Arreda Satanás! ... porque não cogita das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mt 16:23). A solução de Deus para o pecado é a morte. Jesus morreu em nosso lugar, para que, por meio Dele, pudéssemos passar da morte para a Vida.

Alguns cristãos, erroneamente, pensam que Jesus era “um segundo Adão”, indicando assim que Ele veio para recomeçar e fazer o trabalho onde Adão falhou. Entretanto, este não é o caso. Jesus Cristo era o “último Adão” (1 Co 15:45). Quando Jesus veio a esta Terra, aos olhos de Deus, a raça de Adão terminou. A humanidade caída e pecadora terminou. O julgamento do Altíssimo sobre ela está sendo levado a cabo.

Quando chegamos a Jesus, nos tornamos parte de uma nova raça de seres. Tornamo-nos uma nova espécie de criaturas (2 Co 5:17). Agora somos parte da raça divina. Nos tornamos “filhos de Deus” (Gl 4:6). A raça do “velho Adão” é passado, e um novo tipo de ser regenerado está surgindo. Embora este trabalho esteja acontecendo em segredo, algum dia, quando os filhos de Deus forem manifestos (Rm 8:19), tudo o que tenha sido feito através de Cristo se tornará evidente.

UM ENGANO COMUM

Agora, eu gostaria de me referir a um engano comum. Algumas vezes, no Novo Testamento, estas verdades referentes à nossa morte e nossa ressurreição com Cristo, são afirmadas como se já houvessem acontecido. Gálatas 2:20 diz: “Estou crucificado com Cristo”. Aparentemente indicando um trabalho já feito. Colossenses 3:3 afirma: “...porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus”. Há, certamente, um sentido pelo qual isto é verdade, porque quando Cristo morreu, Seu trabalho foi completo. Ele disse: “Está consumado!” (Jo 19:30).

Entretanto, isto pode criar confusão na mente dos crentes. Muitos não imaginam que esta crucificação deve se tornar real para eles. Eles não compreendem que as verdades bíblicas não têm valor para eles, a menos que eles as experimentem através do Espírito Santo.

Alguns, erradamente, pensam que, se eles simplesmente “acreditarem” que estão completamente transformados, então eles estão. Outros imaginam que, já que foram perdoados, então, tudo está bem, não imaginando que este é apenas o princípio e que Deus ainda tem um importante trabalho para fazer neles.

A verdade é que, a menos que entremos na experiência destas coisas, elas absolutamente não nos farão bem algum! Jesus Cristo morreu pelos pecados do mundo inteiro, mas apenas aqueles que, pela fé, se chegam a Ele, são beneficiados por isto. Do mesmo modo, o fato de termos morrido com Cristo e de termos sido ressuscitados com Ele não nos trará bem algum a não ser que, pela fé e obediência, entremos nesta realidade.

Não é suficiente, espiritualmente falando, simplesmente reivindicar a nossa “posição em Cristo”. Esta “posição” precisa se tornar a nossa experiência! Se nós não entrarmos nesta boa terra que o Senhor nos deu e a possuirmos, então, mesmo que ela seja nossa na teoria, nós não vamos possui-la. Pela fé no poder da ressurreição de Jesus, devemos clamar diariamente por a Sua morte, para que Ele possa nos levantar a fim de andarmos em novidade de Vida.

POR QUE NÓS SOFREMOS?

Em uma leitura cuidadosa do Novo Testamento, é óbvio que o sofrimento é uma grande parte da experiência cristã. Embora alguns preferissem tentar eliminar o sofrimento do evangelho, ele claramente faz parte de cada livro do Novo Testamento. Já que Cristo sofreu e morreu por nós, por que é necessário que soframos?

Mais uma vez, isto tem a ver com entrar na experiência de Cristo. A Bíblia diz: “...aquele que sofreu na carne, deixou o pecado” (1 Pe 4:1). Pedro nos ensina que somos participantes do sofrimento de Cristo (1 Pe 4:13). Paulo afirma que somos “participantes dos sofrimentos” (2 Co 1:7) e que ele estava entrando na “comunhão de seus sofrimentos” (Fp 3:10).

Estes e outros versículos mostram claramente que os seguidores de nosso Senhor Jesus Cristo experimentarão sofrimentos, não apenas vindos do diabo, mas também pelas mãos de Deus. Por que isto é necessário e como isto funciona? Uma razão importante para que Deus permita o sofrimento é efetuar transformação em nossas vidas. Todos no mundo sofrem, de uma maneira ou de outra. Entretanto, não são transformados à imagem de Cristo. Mas o sofrimento que Deus permite serve para um propósito muito importante, para aqueles que estão entrando na Vida. As dificuldades e dores pelas quais passamos nesta vida trabalham em nós para expor o pecado.

Quando sofremos, nossa reação a isto é freqüentemente pecaminosa. Nós reclamamos, nos tornamos indivíduos lamurientos. Nós nos tornamos irados, amargos, incapazes de amar e odiosos. Nossas dificuldades mais severas trazem de dentro de nós todo tipo de impiedades. Subitamente, nossa própria retidão, nossa própria bondade não existem mais.

Por exemplo, quando alguém causou a você uma extrema dor física ou emocional, por muitos anos, mais cedo ou mais tarde, seu próprio esforço para suportar se esgota. Seu coração se volta contra ela. Você gostaria de vê-la morta. Você se torna um assassino em seu coração! Não, espere! Você não se tornou um assassino, você sempre foi um! Isto apenas estava dentro de você, escondido de você e dos outros. Esta e muitas outras reações similares são expostas dentro de nós pela operação do sofrimento.

Até que tenhamos sofrido, realmente, não sabemos como somos interiormente. Deus, entretanto, sabe o que permanece dentro dos nossos corações. Portanto, ele permite que soframos, para mostrar-nos o que Ele realmente vê. O sofrimento é a escavadeira de Deus. Através dele, Deus escava nossos corações, para revelar as profundezas do mal que lá reside.

Freqüentemente, somos tentados a pensar que não somos realmente tal tipo de pessoa, é apenas o sofrimento por esta determinada situação que nos fez agir ou falar assim. Meu amigo, deixe-me contar-lhe um segredo. Nada pode sair de seu coração se já não estiver lá dentro. É “...a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6:45).

Nós pecamos porque o pecado mora em nossos corações. Pecar é da nossa natureza. Em cada ser humano moram, mais ou menos escondidos, as mais repulsivas reações e desejos. Tudo o que precisam é de uma oportunidade adequada para se expressarem. Assassinato, luxúria, ódio, paixões imundas, falatório, mentira, ganância, orgulho, ciúme e muitas outras coisas detestáveis moram em cada homem natural. Se você não sabe disto a respeito de si mesmo, então, você realmente ainda não sofreu e não teve a oportunidade de realmente se arrepender diante de Deus por aquilo que você é.

O sofrimento nos traz a oportunidade de morrer. Quando o pecado é revelado dentro de nós, então nós temos a magnífica oportunidade de nos arrepender e negar a nós mesmos. Nós podemos negar a nossa própria vida o direito de expressar sua própria reação natural à nossa situação. Podemos, pelo Espírito Santo, morrer para nós mesmos e viver para Deus.

É assim que o sofrimento pode trabalhar para o nosso bem. Quando sofremos e encontramos em nosso interior reações ruins, podemos nos arrepender e clamar a Deus para que Ele substitua aquilo que somos por aquilo que Ele é. Podemos orar fervorosamente para que não nos seja permitido viver expressando tal mesquinhez, mas que Ele viva em nós e por meio de nós.

Crescemos espiritualmente, não simplesmente por sofrer, mas por nos voltarmos para Deus no sofrimento. Através da operação do Espírito Santo, a morte de Cristo pode ser aplicada à nossa velha vida e uma nova Vida eterna pode viver em seu lugar. Jesus já passou pela morte por nós. Quando nós entramos Nele, quer dizer, entramos em Sua presença pelo Espírito durante o sofrimento, então descobriremos a glória de Sua ressurreição.

Há sempre uma grande tentação, quando sofremos, de procurar conseguir libertação, descobrir uma forma de “escapar” da situação que está provocando dor. Então, como Pedro com o Senhor, sempre haverá uma pessoa bem intencionada por perto, para nos encorajar a fazer exatamente aquilo.

Quão fácil seria apenas descer da cruz e aliviar nosso sofrimento e morte da vida natural. Quão fácil é “conseguir aquele divórcio” ou sair de uma situação desconfortável! Entretanto, se tomarmos este caminho, jamais entraremos na plenitude de Cristo e na glória de Sua ressurreição. A escolha é nossa e deve ser feita a cada dia.

Não vamos culpar nossa situação por causa da nossa reação a ela. Quando o Senhor Jesus foi tentado, nada impuro foi encontrado. Antes que os judeus sacrificassem um cordeiro, era necessário que o sacerdote o examinasse para ver se havia nele algum defeito. Assim também, antes que Jesus fosse sacrificado por nós, era necessário que Ele fosse examinado por qualquer imperfeição.

Pôncio Pilatos O examinou. Herodes também teve a oportunidade. Os soldados romanos tiveram todas as chances possíveis de testar e tentar o Filho de Deus. Ele foi escarnecido, espancado, desnudado, torturado e, finalmente, morto. Durante todo este tempo, Ele não disse uma única palavra errada. Não expressou nenhuma atitude má. Nem sequer uma única expressão de Sua face revelou ódio ou vingança. Ele era verdadeiramente santo.

Nada pecaminoso se manifestou Nele, porque nada de mau existia dentro Dele. Ele passou no teste. Pilatos disse: “Não encontro motivo para acusar este homem!” (Lc 23:4-NVI). Tenho certeza de que ele não poderia dizer isto a respeito de nenhum outro homem. Herodes desistiu de tentar e devolveu-O a Pilatos. O líder dos soldados que, sem dúvida, tinha visto muitos outros homens esmagados sob tais torturas, testificou: “Verdadeiramente este era Filho de Deus!” (Mt 27:54). Ali estava um homem perfeito, sem pecado.

Queridos amigos, este é o Cristo que vive em cada crente. Sua Vida está em nós, e Ele deseja demasiadamente ser manifestado por meio de nós em cada situação de nossas vidas. O único obstáculo somos nós. Estamos prontos e desejosos de morrer para nós mesmos para sermos enchidos com Ele? Estamos desejosos de sermos libertos do que somos para recebermos aquilo que Ele é?

Ele não fará nada dentro de nós sem nossa completa permissão. Precisamos estar prontos para morrer, para tomar nossa cruz e segui-Lo. Vamos concordar com a sentença de morte de Deus sobre a raça caída. Vamos permitir, através de Jesus, que Ele execute Seu julgamento sobre ela. Só, então, estaremos na posição de experimentarmos tudo o que Ele é. Somente quando já tivermos experimentado a morte de Cristo trabalhando, inteiramente, dentro de nós, e a ressurreição de Cristo fluindo através de nós, então seremos capazes de dizer como Paulo: “...já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20). Isto precisa não apenas permanecer como nossa doutrina, mas tornar-se nossa experiência também.

Final do Capítulo 5

Ler outros capitulos online:

Capítulo 1: THE LOVE OF GOD

Capítulo 2: A OFERTA DA VIDA

Capítulo 3: AS DUAS ÁRVORES

Capítulo 4: AS DUAS NATUREZAS

Capítulo 5: A SENTENÇA DA MORTE (Capítulo Atual)

Capítulo 6: A SALVAÇÃO DA ALMA

Capítulo 7: O TRIBUNAL DE CRISTO

Capítulo 8: MONTANHAS E VALES

Capítulo 9: O SANGUE DA ALIANÇA

Capítulo 10: DIVIDINDO ALMA E ESPÍRITO (1)

Capítulo 11: DIVIDINDO ALMA E ESPÍRITO (2)

Capítulo 12: PELA GRAÇA, ATRAVÉS DA FÉ

Capítulo 13: A IMAGEM DO INVISÍVEL

Capítulo 14: A ESPERANÇA DA GLÓRIA