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De Glória em Glória

A SALVAÇÃO DA ALMA

Capítulo 6

De Glória em Glória, livro por David W. Dyer

Publicacao Grão de Trigo

Escrito por David W. Dyer

ÍNDICE

Capítulo 1: O AMOR DE DEUS

Capítulo 2: A OFERTA DA VIDA

Capítulo 3: AS DUAS ÁRVORES

Capítulo 4: AS DUAS NATUREZAS

Capítulo 5: A SENTENÇA DA MORTE

Capítulo 6: A SALVAÇÃO DA ALMA (Capítulo Atual)

Capítulo 7: O TRIBUNAL DE CRISTO

Capítulo 8: MONTANHAS E VALES

Capítulo 9: O SANGUE DA ALIANÇA

Capítulo 10: DIVIDINDO ALMA E ESPÍRITO (1)

Capítulo 11: DIVIDINDO ALMA E ESPÍRITO (2)

Capítulo 12: PELA GRAÇA, ATRAVÉS DA FÉ

Capítulo 13: A IMAGEM DO INVISÍVEL

Capítulo 14: A ESPERANÇA DA GLÓRIA

Capítulo 6: A SALVAÇÃO DA ALMA


Nos capítulos anteriores deste livro, estivemos investigando o plano eterno de Deus, que é preparar uma noiva para Si. Vimos que o homem foi criado à Sua imagem e semelhança para, finalmente, preencher Seu santo propósito. Para compreender este desígnio mais completamente, será necessário para o leitor compreender não apenas por que Deus fez o homem, mas sim como Ele o fez. Verdadeiramente nós fomos feitos de uma maneira “assombrosamente maravilhosa” (Sl 139:14). A partir desta vantagem, vamos então falar mais sobre o trabalho santo que Ele está fazendo em cada um de Seus filhos.

Como filhos de Deus, não devemos andar nas trevas. É desejo de nosso Pai que tenhamos compreensão espiritual do que está acontecendo em nossas vidas, seja em volta de nós, seja dentro de nós. É importante para nós compreender como o Santo Espírito está trabalhando para nos transformar e, assim, sermos capazes de cooperar com Ele neste importante trabalho.

Portanto, passaremos um tempo, aqui, para preparar algum fundamento acerca de nossa discussão nos próximos capítulos. Algumas revelações básicas necessitam ser implantadas em nós, algumas pedras de fundação, essenciais para nos fazer caminhar na luz e compreensão. Alguns de nossos leitores provavelmente já foram ensinados sobre estas coisas, então, isto deve servir de revisão. Para outros, confiantemente, elas se transformarão em entendimentos básicos, providenciando uma base para um grau maior de maturidade em Cristo.

Nosso Deus é um Deus vivo. Ele não tem interesse em residir confinado em um templo físico, feito por mãos humanas. Talvez imagens mortas, sem vida, tenham seu lugar em edifícios igualmente sem vida, mas o nosso Deus, que criou o Universo e vive para sempre, não tem interesse em estar limitado a um edifício terreno. Pelo contrário, Seu maravilhoso plano eterno inclui a ideia de viver dentro de seres humanos. Eles, sendo santificados e purificados pelo Seu Espírito, estão sendo transformados em lugar de morada para Ele.

A Bíblia claramente ensina que nós, o povo de Deus, somos o templo do Espírito Santo (1 Co 3:16). Vivendo dentro e por meio de seres humanos, nosso Criador pode expressar-Se em uma infinita variedade de modos. Portanto, quando falamos do templo de Deus, hoje e no futuro, precisamos ter em mente que estamos realmente falando sobre o povo de Deus – a Igreja.

Equipados com este entendimento, podemos olhar para o tabernáculo e o templo do Velho Testamento sob uma nova luz. Na análise final, Deus não desenhou aquelas estruturas como um lugar de habitação permanente para Ele. Em vez disso, elas devem ser consideradas como símbolos e também fontes de grandes revelações concernentes à Sua íntima morada em Seu povo.

Durante os séculos em que a Igreja Cristã tem existido, muitas pessoas do povo de Deus têm recebido várias revelações referentes ao tabernáculo do Velho Testamento. Alguns o veem como um tipo de Cristo. Outros têm entendido que ele é a prefiguração do evangelho ou da mensagem da redenção. Estou certo que a totalidade da revelação contida nesta estrutura santa nunca será totalmente compreendida por homem algum nesta vida. Entretanto, estou igualmente certo de que, quando Deus deu instruções para o Seu tabernáculo, Ele tinha em mente Sua futura morada – Sua Igreja.

Portanto, quando examinamos esta “tenda de encontros” em detalhes, indubitavelmente podemos descobrir coisas sobre o homem e como Deus o fez para cumprir Seus desígnios. Através do tabernáculo, podemos descobrir algo sobre nós mesmos e o como e o porquê Deus está trabalhando em nós e através de nós.

Com isto em mente, quando nós olhamos para o tabernáculo que Moisés construiu, uma característica se sobressai. É que esta estrutura é composta de três partes: “um átrio externo”, “o lugar santo” e “o santo dos santos”. Embora haja várias peças de móveis e outros objetos mencionados, relativos a diferentes funções e cerimônias, estas três divisões distintas formam a base para o plano estrutural.

Significativamente, quando olhamos mais atentamente para o homem, o templo do presente e do futuro, vemos que ele também é dividido em três partes principais: corpo, alma e espírito. Esta verdade, de que o homem é feito em três partes, é confirmada no Novo Testamento, quando lemos sobre Paulo orando assim: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts. 5:23).

De maneira interessante, no grego, língua em que foi escrito o Novo Testamento, há a palavra “e” separando as três partes assim: espírito e alma e corpo, claramente mostrando a distinção entre elas. Alguns professores da Bíblia erram, dizendo que o homem é feito em duas partes, corpo e alma, pois as Escrituras são claras: o tabernáculo tem três partes e também o homem tem corpo, alma e espírito.

Alguma confusão tem sido gerada pelo uso das palavras “coração” e “carne” na Bíblia, aparentemente introduzindo outras “partes”. Entretanto, não devemos estar confusos sobre isto. O “coração do homem” é simplesmente a parte que não é vista. A Palavra Sagrada usa o termo “coração do homem” para se referir às partes mais íntimas do homem, a alma e/ou a alma e o espírito juntos.

A palavra “carne” significa a parte caída, pecadora do homem, algumas vezes somente o corpo, mas mais freqüentemente, o corpo e a alma juntos. Esta palavra, então, se refere a um ou a ambos, isto é, alma e/ou corpo. Estas palavras “coração” e “carne” são mais amplas em seu uso já que se referem a mais de uma parte.

Conforme você pode ver, há algum sentido sobreposto nesta terminologia e, portanto, pode se tornar confuso. Entretanto, se pensamos no Templo de Deus e em suas três divisões como correspondentes às três partes primárias do homem, em corpo, alma e espírito, então, não deve haver nenhum equívoco.

O QUE QUER DIZER “SALVAÇÃO”

No interesse da completa clareza e verdadeira compreensão da revelação bíblica, agora precisamos gastar um pouco de tempo examinando a palavra “salvação”. Por favor, preste atenção cuidadosa a esta discussão. A maioria dos cristãos acredita que já sabe o que a palavra salvação significa, mas, de fato, poucos têm uma compreensão apropriada a respeito.

Quase a maioria dos crentes hoje, equipara a palavra “salvação” a ser “nascido de novo”. Para eles, estas palavras são sinônimos em seu significado e uso. Eles tomam as expressões “ser salvo” e “ser nascido de novo” como tendo exatamente o mesmo significado. Entretanto, na Bíblia, estas palavras com freqüência têm diferentes significados. Por favor, não se surpreenda com isto, mas simplesmente siga lendo aqui e você também verá como a Palavra de Deus freqüentemente usa estas palavras e frases para significar coisas muito diferentes.

Talvez, o melhor jeito de entender o significado bíblico de “salvação” ou “ser salvo” é compreender que esta palavra ou expressão é usada no texto sagrado para expressar três diferentes períodos de tempo. É usada de três modos diferentes. Podíamos pensar nestes modos como três diferentes tempos verbais: o passado, o presente e o futuro. Isto seria traduzido assim: nós “fomos salvos”, “estamos sendo salvos” e “seremos salvos”. De fato, este é exatamente o caso no grego, a língua em que foi escrito o Novo Testamento. Lá encontramos verbos referentes à “salvação” ocorrendo nestes três tempos: passado, presente (com ação incompleta) e futuro.

Significativamente, o modo como estes tempos verbais é usado corresponde diretamente às três partes do homem, sobre as quais temos falado. Como todos sabemos, a humanidade caiu em pecado. Devido a esta queda, a raça humana necessita ser salva, não apenas um pouco salva, mas salva completamente em corpo, alma e espírito. Com o passar do tempo, nosso Deus está cumprindo Seu trabalho de salvação em cada parte de nosso ser.

SALVAÇÃO DO CORPO

Talvez a maneira mais clara e mais fácil de começar é falar sobre a “terceira” ou mais visível parte de nosso ser, o nosso corpo. Quando Jesus morreu na cruz, Ele comprou para todo crente uma salvação completa. Nem mesmo nosso corpo físico foi deixado de fora. Entretanto, a salvação do nosso corpo ainda não foi manifestada. É algo para o futuro.

Algum dia nosso corpo mortal será glorificado. Ele será “salvo”. Ele será transformado para ser como o corpo glorioso e imortal de nosso Senhor Ressuscitado. É a isto, provavelmente, que Pedro, o apóstolo, se refere quando fala de “...a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1 Pe 1:5).

Ali Pedro fala de uma salvação futura que ainda não se manifestou. Já que ser “nascido de novo” já foi revelado, é evidente que ele está mencionando alguma coisa além. Paulo também faz referência à salvação futura do corpo quando diz: “...porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos” (Rm 13:11).

Quando Jesus Cristo vier em glória com Seus anjos, os mortos em Cristo se levantarão e serão transformados de um modo glorioso (2 Co 5:1-4, 1 Co 15:38-55, Rm 8:23). Esta é uma parte de nossa salvação. Entretanto, sua realização não acontece no passado, nem no presente, mas no futuro.

SALVAÇÃO DO ESPÍRITO

A seguir vamos falar sobre a “primeira” parte de nosso ser – nosso espírito. Quando Deus criou o homem, soprou sobre ele o sopro (ou espírito) de vida (tanto no hebraico quanto no grego, a palavra para sopro e espírito é a mesma). Esta é a origem do espírito humano, o sopro ou “Espírito” de Deus. Este “órgão”, o espírito humano, foi designado por Deus para ser o elemento principal do ser humano. É a parte que foi feita para ter comunhão com Deus e que foi destinada a ser a parte que lidera dentro de nós.

No momento em que Adão e Eva pecaram contra Deus, algo dentro deles morreu. Eles não apenas começaram a morrer fisicamente, mas também tiveram algo dentro deles mudado. É impossível para nós saber exatamente o que aconteceu, mas podemos ver que, de alguma forma, seu espírito humano foi amortecido e escurecido. Sua doce comunhão com Deus foi interrompida. Um tipo de trevas espirituais desceu sobre eles e suas vidas foram radicalmente mudadas. Esta perda no espírito humano foi devastadora. Obviamente, esta parte do homem também necessita de salvação.

Quando um homem ou uma mulher recebe Jesus Cristo, uma salvação maravilhosa ocorre. O Espírito de Deus entra em seu espírito humano e uma união santa e eterna acontece. A Bíblia diz: “...aquele que se une ao Senhor é um espírito com Ele” (1 Co 6:17). Em outro lugar, somos ensinados que: “...o que é nascido do Espírito (isto é, o Espírito de Deus) é espírito (o espírito humano)” (Jo 3:6). A união do Santo Espírito com o espírito humano produz o novo nascimento.

Somos “nascidos do alto” quando recebemos o Espírito de Deus em nosso espírito. Que coisa maravilhosa nos aconteceu! O Espírito de Deus entrou em nosso espírito e nos tornamos um novo tipo de criatura celestial. A união do Espírito Santo com o espírito humano cria um novo ser espiritual (2 Co 5:17).

Ser nascido de novo é o primeiro evento em uma genuína experiência cristã. Este passo inicial envolvendo fé, arrependimento e a recepção do Espírito Santo é a maneira de entrarmos na família eterna de Deus. Como já vimos, no capítulo dois, isto significa que recebemos a própria Vida eterna de Deus.

Assim como uma criança nasce em uma família natural recebendo vida de seus pais, assim também nós, quando nascemos de novo, nos tornamos “bebês em Cristo”, crianças imaturas na família de Deus. Esta experiência é imediata, isto é, ocorre subitamente. Talvez leve alguns segundos ou minutos, mas é muito semelhante ao nascimento físico.

Isto é o que muitas pessoas pensam quando falam de “estarem salvas”. Esta palavra “salva” é freqüentemente usada por crentes hoje em dia, no tempo de verbo passado, como quando dizem: “fui salvo” ou quando perguntamos: “quando você foi salvo?” Estão querendo dizer: “Eu nasci de novo” ou “quando você nasceu de novo”?

Algumas poucas vezes no Novo Testamento esta palavra também é usada assim, no tempo de verbo passado. Lemos: “...não pelas obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3:5). E também: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé...” (Ef 2:8). Nesta passagem, a palavra “salvo” é usada no tempo verbal passado, referindo-se ao novo nascimento, um evento que faz parte do passado de cada cristão verdadeiro.

UM TRABALHO CONTÍNUO

Significativamente, as palavras “salvação” ou “ser salvo” são usadas muitas mais vezes na Bíblia para descrever um trabalho presente e contínuo. Freqüentemente é usada em um contexto ou em uma forma verbal que indica um trabalho que ainda está ocorrendo. Por exemplo, quando lemos que devemos desenvolver a nossa salvação com temor e tremor (Fp 2:12), isto indica que alguma coisa ainda está acontecendo. Aqui, vemos claramente que, embora tenhamos nascido de novo, ainda há uma parte de nossa salvação que precisamos desenvolver.

Demonstrando um pensamento similar, Paulo diz: “...porque sei que isto me resultará em salvação, pela vossa súplica e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo” (Fp 1:19 VR). Seguramente Paulo já era nascido de novo. Ainda assim, este versículo revela que havia um progressivo trabalho de salvação ocorrendo na vida de Paulo. Assim, vemos que há um terceiro modo em que a palavra “salvação” é empregada, representando um trabalho contínuo no presente.

Um outro verso que afirma de maneira bem clara a verdade de que hoje existe uma salvação contínua para os crentes além do novo nascimento, encontra-se em Romanos 5:10. Aqui lemos: “Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida [ZOÊ]...”. Você vê aqui que já ocorreu “reconciliação”. O novo nascimento já se efetuou. Entretanto, o processo de salvação ainda continua.

Nessa passagem a salvação contínua é chamada de algo que é “muito mais”. A reconciliação com Deus realmente é maravilhosa, mas aqui entendemos que há alguma coisa etiquetada em “muito mais”. Isso é o processo de salvação contínuo. É o processo de sermos transformados até ficarmos totalmente santificados.

Ainda um outro verso que mostra que a salvação é um processo contínuo é 1 Coríntios 1:18. Aqui nós lemos: “Porque a mensagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós que estamos sendo salvos, é poder de Deus”. Realmente, a transformação de uma alma é uma demonstração do poder real de Deus.

Muitos podem ler esta passagem com a mentalidade de salvação como sendo um evento de um tempo único no passado e, portanto, interpretam mal como se fosse: “para nós que estamos nascendo de novo”. Entretanto, a palavra aqui claramente indica um trabalho em progressão. Paulo e os leitores desta epístola já haviam experimentado o novo nascimento. Aqui, ele está se referindo à sua experiência contínua da graça maravilhosa de Deus.

Esta verdade de que o trabalho de salvação pode ser uma coisa contínua é obscurecida na língua portuguesa pelo uso das formas verbais. De acordo com os autores da tradução Concordante Literal, no grego, os verbos se referindo à salvação são freqüentemente usados, não para indicar um ato já completo, mas uma ação que está incompleta e ainda continua.

Portanto, em muitos lugares nas versões portuguesas, onde lemos “ser salvos” ou “são salvos”, na realidade, deveria ser traduzido por “estar sendo salvos” ou “sendo salvos”. Por ser “estar sendo salvos” uma expressão inadequada em Português, a maioria dos tradutores da Bíblia traduziu como “salvos” implicando um trabalho já acabado. Infelizmente, fazendo assim, eles também obscureceram a verdade revelada na Palavra de Deus.

Por favor, permita que eu cite algumas passagens bem conhecidas do Novo Testamento, usando as diferentes formas verbais indicadas na tradução Concordante Literal, para que você possa entender o que eu quero dizer. Quando Jesus estava pregando e respondendo às acusações dos judeus, Ele disse: “...eu, porém, não recebo testemunho de homem, mas eu digo isso para que estejais sendo salvos” (Jo 5:34 VR), assim indicando um trabalho contínuo.

Em Romanos 5:9 lemos: “...muito mais agora, tendo sido reconciliados, nós estaremos sendo salvos da ira através Dele” (NVI). Novamente 1 Coríntios 15:1,2 afirma: “Irmãos, venho lembrar-vos que o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também estais sendo salvos se retiverdes a palavra tal como vô-la preguei, a menos que tenhais crido em vão”.

De acordo com os autores da tradução Concordante, as palavras “serem salvos”, deveriam ser também traduzidas como “estarem sendo salvos” nos seguintes versículos: Marcos 16:16, Lucas 8:12, João 3:17, 10:9, Atos 2:21, 11:14, 16:31, Romanos 5:9,10, 10:13, 1 Coríntios 10:33, 15:2 e 1 Tesssalonicenses 2:16. Por favor, tome algum tempo para rever todos estes versículos, lendo-os com a ideia da ação contínua de “estar sendo salvo” em mente, para se ter uma nova e mais verdadeira compreensão do Evangelho.

SALVAÇÃO DA ALMA

Como você já deve ter suposto, este processo contínuo de salvação é algo que está acontecendo em nossa “segunda parte”, nossa alma. Quando nascemos de novo, nossa “primeira parte”, nosso espírito, é salvo. No futuro, quando Jesus voltar em glória, nossa “terceira parte”, nosso corpo, será salvo. Mas hoje, Deus está fazendo um trabalho contínuo em nossa “segunda parte”, nossa alma.

Esta verdade é claramente vista em Hebreus 10:39, onde lemos: “Mas não somos daqueles que retrocedem para a perdição, somos, entretanto, da fé para a conservação [completa salvação] da alma”. Esta é uma verdade essencial que está sendo tristemente negligenciada e mal compreendida pela Igreja de nossos dias. A salvação da alma não é um evento! É um processo ao qual todos nós devemos prestar séria atenção.

Voltando à analogia de Deus no Tabernáculo, nós vemos que o Espírito de Deus entra no espírito humano e passa a residir nele. É, ali, que a presença de Deus mora permanentemente. Ela não vem e vai. Quer possamos “sentir” Sua presença ou não, uma vez que O recebemos, Deus habita dentro de Seu Santo Templo, em nosso espírito.

Mas, no dia em que Jesus foi crucificado, algo surpreendente aconteceu. O véu que separava o Lugar Santo do Santo dos Santos, foi rasgado em dois, de alto a baixo. O resultado foi que a presença de Deus deixou de estar confinada ao Santo dos Santos, mas estava livre para Se mover em direção ao Lugar Santo.

Dentro de nós isto significa que Deus não está confinado apenas ao nosso espírito, mas pode encher a nossa alma com Sua presença.

Talvez vocês, leitores, se lembrem da nossa discussão no capítulo 2, sobre as três palavras gregas para vida: BIOS, PSUCHÊ e ZOÊ. Lá aprendemos que ZOÊ é a palavra para a Vida eterna e não criada de Deus. Também vimos que PSUCHÊ é a palavra para nossa velha e caída vida da alma.

Agora chegamos a um ponto de nosso ensino em que esta distinção se torna muito importante. Já que “o espírito de vida” (ZOÊ) em Cristo Jesus (Rm 8:2) está agora em nosso espírito, é evidente que nós temos uma Vida sobrenatural, eterna, em nossa parte interior. Mas, em nossa alma, ainda temos uma vida criada, natural, pecadora (PSUCHÊ). A parte mais interna é santa, mas a parte externa permanece pecadora.

Quantos de nós podemos testificar isto em nossa experiência! Como Paulo, temos um desejo santo em nosso homem interior, mas nos descobrimos praticando o pecado com o nosso homem “exterior”. (Veja Romanos 7:15). A solução de Deus para este dilema é o que estaremos investigando, agora.

UMA SUBSTITUIÇÃO GLORIOSA

O plano de Deus é substituir, pouco a pouco, nossa vida terrena e corrupta por Sua gloriosa Vida eterna. Isto é o que o termo “a salvação da alma” quer dizer. Quando damos oportunidade ao Espírito Santo, Ele espalha Sua santidade, do mais profundo interior do nosso espírito, sobre nossa alma e, gradualmente, faz esta substituição essencial.

Quanto mais abrimos nosso ser para Ele, mais Ele aproveita a oportunidade para nos encher com aquilo que Ele é. Quanto mais freqüentemente e profundamente permitimos o acesso do Espírito à nossa alma, mais completamente somos sendo salvos. A Bíblia chama a este processo, “transformação” ou “santificação”. Obviamente, quanto mais somos mudados ou transformados à Sua imagem, mais santificados ou santos nos tornamos. Estas duas coisas, santificação e transformação são parte de um trabalho maravilhoso chamado “a salvação da alma”.

Talvez uma boa analogia para isto seja a formação de madeira petrificada. A madeira, em seu estado natural, é susceptível à decadência e à deterioração e pode ser queimada. Mas, em certas circunstâncias, quando um pedaço de madeira cai na água, um outro processo ocorre.

Pouco a pouco, os elementos naturais da madeira são arrastados para longe e vários minerais são depositados em seu lugar. A água satura e penetra na madeira vagarosamente, removendo os elementos naturais, mas preservando a aparência externa. Neste processo, pouco a pouco a madeira vira pedra.

Disseram-me que não apenas os anéis que indicam o crescimento são preservados na madeira que agora é pedra, mas que a estrutura celular ainda é visível em um microscópio. Assim, a madeira é transformada de algo perecível a algo imperecível ou “eterno” de um ponto de vista humano. Nunca mais será deteriorada e tornou-se à prova de fogo.

De uma forma similar, quando permitimos que Ele faça isto, o Espírito Santo vai saturar e penetrar em cada cantinho de nossa alma. Pouco a pouco, Ele vai levar para longe os elementos naturais de corrupção e decadência e substituir a nossa natureza pela Sua Vida e natureza eternas. Seremos santificados e purificados pela lavagem da Palavra (Ef 5:26).

O resultado é que nos tornamos “eternos” e, como veremos mais tarde, também “à prova de fogo”. Deus não muda a estrutura exterior do nosso ser, apenas o conteúdo. Tornamo-nos pessoas diferentes internamente. Em vez de sermos motivados por uma vida pecaminosa da alma, nos tornamos dominados por uma Vida reta e santa, a Vida do Espírito.

Isto não significa que nos tornaremos um tipo diferente da personalidade que tínhamos antes, ou que nos tornaremos alguém que não somos. Ao contrário, descobrimos que nos tornamos aqueles que fomos realmente feitos para ser. Tornamo-nos o tipo de pessoa que se ajusta perfeitamente com nossas personalidades e capacidades. Tornamo-nos aquilo que o nosso Criador realmente pretendia.

Como uma analogia, digamos que Deus não toma uma pedra verde e a transforma em vermelha. Ele pega uma pedra verde opaca e a purifica até que ela se torne transparente. Então nossa alma (a pedra em nossa analogia) pode livremente exibir tudo o que Deus é, dentro de nós, brilhando com a “cor” que Ele nos fez ter. Nós estaremos purificados de todos os impedimentos e seremos transparentes como a noiva de Cristo (Ap 21:11). Assim, por meio de nós, Ele poderá ser visto em toda a Sua glória, de um jeito especial, que somente nós podemos exibi-Lo.

CRESCIMENTO EM VIDA

Quando Jesus encarnou, aqui na Terra, Ele nasceu em um lugar humilde e sujo – em um estábulo e uma manjedoura. Assim também, quando nascemos de novo pela entrada da Vida de Deus em nós, Jesus novamente Se humilha e entra em um lugar humilde. Entretanto, Ele não permaneceu muito tempo na manjedoura. Ele cresceu em “sabedoria e estatura” (Lc 2:52). Ele cresceu em humanidade e maturidade e, também, em utilidade para Seu Pai celeste.

Da mesma forma, a Vida eterna de Deus cresce dentro dos crentes que estão procurando e obedecendo ao Senhor. À medida que esta Vida amadurece, eles também se tornam cada vez mais úteis a Deus. O desejo de nosso Senhor não é ter um berçário cheio de bebês espirituais que constantemente precisam de tempo, cuidado e atenção. Ele está procurando filhos e filhas maduros, que possam ser úteis para Ele aqui na Terra, para cumprir Seus propósitos eternos.

Há uma necessidade urgente de todos os filhos de Deus crescerem em maturidade espiritual. Nosso testemunho ao mundo não é simplesmente com palavras, é também com atitudes e ações que expressamos. Nosso testemunho não é apenas o que dizemos, mas também aquilo que somos.

O que o mundo necessita é de Jesus. Ele é a resposta às necessidades dos homens. Mas, onde as pessoas irão encontrá-Lo? Como os que não são salvos podem saber como Ele é? Principalmente através de como Ele é exibido por meio de Seu povo. E como eles poderão saber que, na verdade, Ele pode salválos? Só vendo a salvação funcionando em nós. Pense comigo. Se nós não estamos transformados e libertos, que direito temos de dizer para outros que Jesus realmente transforma e liberta? Se nossas atitudes, ações e até reações não refletem o caráter de Deus, que direito temos de falar aos outros que eles precisam de ser salvos? Somente vendo como Ele nos libertou de onde estávamos e nos transformou à Sua semelhança. Isto requer que cresçamos na Vida de Deus, de maneira que Sua natureza possa ser expressa por meio de nós.

CRESCIMENTO LEVA TEMPO

Como todas as outras coisas vivas, o crescimento espiritual leva tempo. Assim como é no mundo físico, também é no espiritual. Não existe maturidade instantânea. Crescimento na vida toma tempo e nutrição. Isto é especialmente verdadeiro nas maiores e mais impressionantes árvores gigantes. Para alcançar maturidade, elas requerem centenas de anos de crescimento. Somente os cogumelos moles e insubstanciais crescem durante a noite.

Estas coisas deveriam nos instruir. Crescer espiritualmente também leva tempo e nutrição. Nunca acontecerá instantaneamente. Requer atenção para procurar, obedecer e conhecer o Senhor Jesus Cristo. 1 Pedro 2:2 diz: “Como crianças recém-nascidas, desejem de coração o leite espiritual puro, para que por meio dele cresçam para a salvação” (NVI). Está claro que nossa salvação contínua é resultado de um processo de crescimento ajudado pela nutrição espiritual.

Além disso, somos instruídos na Palavra de Deus a crescer. Paulo nos induz a crescer. Lemos: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo...” (Ef 4:15). Esta não é uma coisa pequena, irmãos. A plenitude de Deus nos foi oferecida. Ele não reteve nada. Ele derramou Seu sangue para abrir-nos o caminho. Ele derramou Seu Santo Espírito para fazer acessível a nós tudo aquilo que Ele é.

Nós, pequenos e fracos seres humanos, recebemos a oportunidade de nos encher até transbordarmos com o Deus do Universo. Mas estamos nos aproveitando desta oportunidade? Estamos usando nosso tempo para buscar, bater e pedir até estarmos satisfeitos por termos recebido tudo o que é possível?

Os gálatas foram repreendidos por Paulo por sua falta de maturidade. Ele diz: “Meus filhos, por quem, de novo sofro as dores do parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4:19). Vejam, eles eram “membros da igreja”. Já eram nascidos de novo. Entretanto, estavam falhando em render-se a Deus e procurá-Lo de um modo que os conduzisse à “formação” de Cristo dentro deles. Eles estavam negligenciando tão grande salvação (Hb 2:3).

A melhor maneira de crescer espiritualmente e, assim, entrar na salvação que é nossa, em virtude de sermos feitos filhos de Deus, é passar tempo em Sua presença, lendo Sua santa Palavra. 2 Timóteo 3:15 diz: “...sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”.

Queridos irmãos, a mesa de Deus já está posta. O banquete já está pronto. Tudo está disponível para aqueles que são chamados a usar seu tempo e atenção para encher a si mesmos, mais e mais, de novo e de novo, até o dia da volta de Jesus. Nada está faltando, a não ser nosso desejo e disposição. Deste modo, estaremos obtendo o fim da nossa fé: a [completa] salvação da nossa alma (1 Pe 1:9). Veja você, o novo nascimento é o começo da nossa fé, mas o final é a total salvação de nossas almas. O que poderia ser mais precioso do que isto? Verdadeiramente, Ele “...também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus...” (Hb 7:25).

A salvação da alma é uma parte essencial da experiência cristã. É um processo através do qual cada cristão necessita passar. Ninguém é isento disso.

Como já vimos, não é suficiente ser “nascido de novo”. Não apenas necessitamos experimentar a salvação em nosso espírito, mas é imperativo que continuemos a receber tudo o que Jesus comprou para nós: a salvação da alma. Esta experiência inclui coisas como: “transformação”, “santificação”, “crescimento no Senhor”, “purificação” e a “renovação da nossa mente”.

O modo como isto acontece é misterioso. Não é possível explicar o mecanismo disto, de uma maneira mental, analítica. Apenas sabemos que isto ocorre quando, dia a dia, nos entregamos completamente a Ele. Ocorre que Sua Vida cresce dentro de nós. Quando passamos tempo em Sua presença, contemplando Sua glória, “...somos transformados, de glória em glória, em sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Co 3:18). Esta não é uma promessa para o futuro, mas algo que precisamos experimentar no dia a dia. Não é apenas para uns poucos místicos, mas para todos os filhos de Deus.

O processo contínuo da salvação da alma é algo que devemos experimentar nesta vida. Quando Jesus voltar, não haverá uma segunda chance. Não há um “segundo tempo”. Como vimos, não há uma salvação instantânea. Hoje, nós temos uma escolha. Hoje, podemos deixar de lado o pecado e tudo o que nos leva para trás e correr após Jesus. Amanhã não haverá desculpas. “...eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2 Co 6:2).

Final do Capítulo 6

Ler outros capitulos online:

Capítulo 1: THE LOVE OF GOD

Capítulo 2: A OFERTA DA VIDA

Capítulo 3: AS DUAS ÁRVORES

Capítulo 4: AS DUAS NATUREZAS

Capítulo 5: A SENTENÇA DA MORTE

Capítulo 6: A SALVAÇÃO DA ALMA (Capítulo Atual)

Capítulo 7: O TRIBUNAL DE CRISTO

Capítulo 8: MONTANHAS E VALES

Capítulo 9: O SANGUE DA ALIANÇA

Capítulo 10: DIVIDINDO ALMA E ESPÍRITO (1)

Capítulo 11: DIVIDINDO ALMA E ESPÍRITO (2)

Capítulo 12: PELA GRAÇA, ATRAVÉS DA FÉ

Capítulo 13: A IMAGEM DO INVISÍVEL

Capítulo 14: A ESPERANÇA DA GLÓRIA